Lucivânia Nascimento dos Santos: O neofascismo no Brasil

O atual cenário político e social no Brasil apresenta, de forma bastante nítida, a luta de classes: de um lado, um grupo conservador, elitista, historicamente detentor de privilégios e de outro, um grupo que começou a conquistar direitos desde sempre negados.

Por Lucivânia Nascimento dos Santos*, especial para o Vermelho

Manifestação pela intervenção militar - Reprodução

Tais direitos foram conquistados por meio da luta e da organização da classe trabalhadora em movimentos sociais que a representam. A classe média, que tenta continuar ascendendo socialmente e tem profunda admiração pela elite e por seu discurso, depara-se com o crescimento econômico e social de milhões de brasileiros que saíram da miséria por meio de programas sociais.

Paralelamente a isso, os espaços antes reservados para a elite e para a classe média, como as universidades federais, por exemplo, passam a ser compartilhados por pessoas das classes C e D, por meio de cotas e do aumento do número de vagas e da construção de 18 universidades federais nos últimos 12 anos.

As transformações sociais em curso não agradam ao grupo que sempre usufruiu de direitos como se eles fossem um privilégio dos "bem-nascidos". A reação desse grupo de pessoas que em sua maioria é branca, reside nos chamados "bairros nobres", está utilizando o mesmo discurso fascista da classe média italiana [no período de Mussolini] para combater qualquer avanço da classe trabalhadora.

O fascismo foi uma ideologia que ganhou forças na Itália através da classe média durante segunda década do século 20 e no mesmo período, Adolf Hitler, na Alemanha, ganhava as massas através por meio das propagandas do Partido Nacional Socialista Alemão que era anti-comunista e contrário à revolução dos trabalhadores.

A psicologia de massas do fascismo, no início do século 20, utilizou-se do conservadorismo pequeno-burguês e do patriotismo da classe média para chegar ao poder. Mesmo esta classe também sendo vítima do capitalismo, reagia a qualquer organização proletária, pois era uma classe formada por funcionários públicos e pequenos empresários que combatiam a grande empresa, mas ao mesmo tempo era contra a construção de uma sociedade socioeconomicamente igualitária. Essa classe foi utilizada pela elite como massa de manobra contra a luta dos trabalhadores.

A ideologia fascista defendia o militarismo e o ultranacionalismo, venerava o Estado, defendia que uma nação precisava de um líder forte e autoritário, era hostil ao socialismo e ao comunismo, era racista e ultraconservadora. Há alguma semelhança entre essas características ideológicas e os movimentos que têm surgido e se difundido no Brasil?

Atualmente no Brasil, muitas páginas têm sido criadas nas redes sociais com o discurso forjado sob a égide moralista. Tais páginas tem defendido intervenção militar, e têm um número assustador de adeptos que curtem e compartilham suas postagens que apresentam sempre algo em comum: discursos moralistas contra homossexuais, discursos racistas, postagens que expressam preconceitos de origem e de classe, onde os alvos são nordestinos e negros. Estas páginas usam o argumento de pretender combater a corrupção, são avessas à existência do Congresso Nacional e fazem discurso de ódio social constantemente. Somam-se a estas páginas, os movimentos ditos democráticos da direita, que se apresentam contra intervenção militar, mas que reproduzem o mesmo discurso xenófobo, racista e golpista, organizando marchas pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, eleita democraticamente ao mais alto cargo da República.

Na marcha do dia 15 de março deste ano, adeptos de ambos os segmentos das redes sociais se encontraram nas ruas do país para "confraternizar" sua ideologia e expor cartazes e faixas com frases golpistas e de caráter reacionário e fascista.

Organizadores de ambos os grupos, tanto defensores de intervenção militar quanto os que pediam impeachment sem intervenção militar, conseguiram convencer pessoas a irem às ruas marchar junto com eles contra a própria classe devido ao famigerado tema da corrupção que está em evidência no Brasil devido ao de que, nos últimos 12 anos, os órgãos responsáveis pela investigação e pelo julgamento de casos de corrupção ganharam autonomia para investigar e punir culpados pelo crime de corrupção independente de qual seja o partido ou a empresa envolvidos.

Muitas pessoas da classe trabalhadora se veem persuadidas por tais discursos neofascistas que de forma contraditória usam o argumento de combater a corrupção defendendo a ilegalidade, já que não é possível um impeachment no atual contexto, onde não há prova alguma que incrimine a presidenta.

Tais discursos têm como objetivo deter o avanço da classe trabalhadora e destruir a democracia brasileira, tão duramente conquistada por brasileiras e brasileiros que lutaram contra a ditadura militar, regime que reprimia brutalmente a organização e a manifestação social torturando e assassinando civis e inviabilizando qualquer avanço social.

É preciso combater o discurso neofascista no Brasil e identificar onde sua ideologia está inserida, para que o neo-fascismo não seja propagado no Brasil como ocorreu com o fascismo na Itália através da classe média que persuadiu até mesmo a classe operária na Europa, no século 20.

*Lucivânia Nascimento dos Santos é graduada em Geografia pela Uesc e militante da UJS e do PCdoB em Itabuna (BA)