FHC diz que reforma seria “naufrágio" da "classe política”    

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso disse que a reforma política seria uma “naufrágio do sistema político” e que as ruas não querem a reforma.
 

 

Fernando Henrique Cardoso (FHC)

“Ela [Câmara dos Deputados] engravidou da reforma política. E aí eu acho que tem que conversar PMDB, PSDB, PT… Para evitar o naufrágio do sistema e da classe política toda. Agora, não é isso que a rua está pedindo”, afirma o tucano.

A “rua” que FHC se refere é a da grande mídia. A OAB, CNBB e centenas de entidades dos movimentos sociais estão mobilizadas pela reforma política, que tem como um dos principais objetivos pôr fim ao financiamento empresarial de campanha que tem sido uma das causas da corrupção.

Segundo FHC, “a rua está pedindo para passar a limpo”, que nesse caso refere-se ao PT. Na entrevista ele vai revelando o real objetivo tucano. “Agora, quem está processando a Dilma por algo que ela fez? Não tem. Quer dizer que não venha a acontecer? Não sei. Estamos numa situação de ponto de interrogação. Dependemos do calor da rua, do avanço do processo judicial e da mídia. Seria irresponsável nessa situação eu sair com uma bandeira fora de hora”, disse ele.

Na campanha para criminalizar o PT, FHC diz que se a eleição fosse hoje, Lula perderia. “Hoje [se Dilma cai e fazem novas eleições], o Lula perde. Mas não penso eleitoralmente. Sou democrata. Não vou dizer: 'Então vamos fazer o impeachment porque o Aécio [Neves] ganha, o Geraldo [Alckmin] ganha, ou eu ganho'. Não estou dizendo que nunca vai se chegar a tal ponto [do impeachment]. Não sei”, disse o democrata.

Trensalão tucano é muito diferente, disse

Sobre o fato de Antonio Anastasia (PSDB-MG) estar na lista dos investigados da Operação Lava Jato, FHC minimizou: “Pegar uma referência vaga sobre alguém e colocar num processo é irresponsabilidade. Mas minha opinião é clara: está lá, que investiguem. Mas, no caso do Anastasia, é uma coisa fragílima”.

Quando questionado sobre as investigações do esquema de propinas do trensalão em São Paulo, FHC disse que “é muito diferente”, pois, segundo ele, não há “acusação de que dirigente político tivesse recebido dinheiro, de que o PSDB tivesse recebido”.

Mas a realidade não é bem assim. De acordo com depoimento do executivo da Siemens, Nelson Branco Marchetti, em encontro na Holanda, em 2008, o então governador José Serra, hoje senado pelo PSDB-SP, o advertiu que se a multinacional alemã fosse à Justiça contra licitação vencida pela espanhola CAF, ele anularia o processo de concorrência porque o preço da multinacional alemã era 15% maior.

Apesar dos depoimentos apontarem que o esquema na Petrobras iniciou na gestão tucana, FHC diz que “não é isso”. “Eu li. As empresas dizem que se organizaram como associação, mas que só tornaram como prática mais tarde”, disse ele. E completa: “Pode ter havido corrupção no meu governo? Houve muito homicídio no meu governo, sabia? Marido matou mulher, mulher matou marido. O que eu tenho a ver com isso? Não há nem acusação desse tipo de organização no meu governo”, afirma. De fato houve muita coisa durante o governo FHC. Além da quebradeira generalizada da economia, do arrocho dos salários e ameaça aos direitos, seu governo foi acusado da compra de votos no Congresso para a reeleição, em 1998.

Do Portal Vermelho, com informações de agências