Ciclistas fazem bicicletada em defesa da ciclovia em São Paulo

Lembra daquela música da infância “se essa rua fosse minha…”? Então, os ciclistas continuam: “eu mandava pintar toda de vermelho, para minha bicicleta passar”. Apesar da indignação pela liminar que proibiu as obras da ciclovia em São Paulo, as pessoas que ocuparam a avenida Paulista na noite desta sexta-feira (27) com suas bicicletas o fizeram com descontração e alegria, sentimentos típicos de quem não abre mão da liberdade de andar sobre duas rodas.

Por Mariana Serafini, do Vermelho

Bicicletada em São Paulo - Caio Mathias

Com palavras de ordem como “vai ter ciclovia” ou “se não tem ciclovia, a gente ocupa a via” e “mais amor, menos motor”, cerca de 7 mil ciclistas fecharam um lado inteiro da avenida Paulista. A bicicletada pelo direito à ciclovia saiu da Praça do Ciclista, seguiu e direção ao Paraíso e depois retornou ao ponto de partida. Por cerca de duas horas a maior avenida do país serviu de palco para a população dar um recado: a cidade é das pessoas, não dos carros.

Há pouco mais de uma semana o projeto da atual administração da prefeitura de São Paulo de implementar 400 quilômetros de ciclovia levou um golpe, o juiz Luiz Fernando Rodrigues Guerra, da 5ª Vara da Fazenda Pública determinou a suspensão da construção das faixas permanentes destinadas à bicicleta.


Foto: Caio Mathias

O processo começou quando um grupo de moradores de um dos bairros mais ricos da capital, Higienópolis, abriu um processo no Ministério Público contra o projeto, eles alegavam “falta de planejamento e consulta pública”. Mais uma vez a Justiça contemplou o lado rico em sua balança e condenou a cidade ao retrocesso em favor de um pequeno grupo.

As metrópoles vivem uma verdadeira “epidemia de motores”, avenidas e ruas estão cada vez mais caóticas, os espaços públicos são escassos, praças e parques reduzidos, as pessoas perderam o direito à cidade. Os carros – a cada ano maiores, mais potentes, mais poluentes – invadiram, o transporte público entrou em colapso: metrôs apresentam problemas diariamente, ônibus são reféns do trânsito, é preciso frear. Foi isso que o prefeito Fernando Haddad tentou fazer ao propor um projeto ousado de implantação de ciclovias numa cidade cuja elite conservadora está pronta para atacar qualquer coisa que vá contra seus interesses.


Foto: Caio Mathias

Aos poucos a cidade foi ganhando faixas vermelhas que rapidamente foram ocupadas por ciclistas de todas as idades. Pessoas que utilizam bicicletas velhas e novas, sofisticadas e simples para ir ao trabalho, à escola, ao mercado, ou apenas passear sentindo o vento no rosto no fim de tarde. De repente uma faixa vermelha, ocupada de pontos coloridos quebrou o cinza dos carros, São Paulo ganhou vida.

Em qualquer outro país barrar uma ciclovia seria um retrocesso injustificável, mas no Brasil a imprensa hegemônica fez muito bem o trabalho de envenenar a população contra o projeto. Muita gente é “contra”, mas não sabe exatamente o porquê. Primeiro argumentavam que ninguém utilizava a ciclovia, não é verdade, os sete mil ciclistas no protesto na Avenida Paulista provaram isso. Depois tentaram dizer que os recursos usados para a implementação das faixas era de um valor exorbitante, prontamente a prefeitura desmentiu; por último disseram que não havia planejamento, mais uma vez uma informação falsa. A CET publicou em seu site “o que havia eram centenas de estudos que nunca haviam sido implantados”, ou seja, a ideia das ciclovias não é de hoje, não foi uma decisão intempestiva de um prefeito que quis “provocar a revolta dos moradores de Higienópolis”, como disse o senador do PSDB, Aloysio Nunes.


Foto: Caio Mathias

Pois bem, diante de todo um cenário favorável às faixa vermelhas, os ciclistas rapidamente se mobilizaram e foram à rua cobrar que a liminar fosse derrubada. Com alegria e sensação de missão cumprida receberam a notícia, no meio da manifestação, de que as ciclovias estavam liberadas novamente. Uma festa de buzinas e luzes de led! Imediatamente os trabalhadores responsáveis pela construção da ciclovia da Paulista ligaram as máquinas e começaram a quebrar a calçada, vitória! “A Paulista é dos ciclistas também!

As bicicletas venceram a primeira batalha, que venham agora mais 400 quilômetros, as pessoas querem ir cada vez mais longe com as suas bicicletas. É um começo para os moradores de Higienópolis entenderem que a cidade não é só deles.

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