Revista francesa entrevista editor do Vermelho sobre crise no Brasil

A vitória da esquerda brasileira não é aceita pelas forças conservadoras, que fazem de tudo para desacreditá-la. O secretário nacional de Comunicação do Partido Comunista do Brasil e editor do Portal Vermelho foi entrevistado pela revista semanal comunista francesa L´Humanité Dimanche (suplemento dominical do jornal L´Humanité), na qual discorre sobre a estratégia da direita para derrocar o governo da presidenta Dilma Rousseff.

Revista francesa entrevista editor do Vermelho sobre crise no Brasil - Reprodução

Humanité Dimanche: Como explica as manifestações no Brasil?

José Reinaldo Carvalho: Os protestos de rua ocorridos recentemente abrem uma nova etapa no conflito político e social no Brasil. As forças da oposição, formada pelos partidos neoliberais e conservadores, entre eles o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do candidato Aécio Neves na última eleição presidencial de 2014, encontraram um novo modus operandi. Com a mídia e os grupos de agitação organizados nas redes sociais da internet, intensificam a luta para derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff. Seu plano é organizar uma pressão contínua a fim de desestabilizar o poder, combinando a ação parlamentar, a ação nos governos estaduais e municipais onde governam, as ações de rua e a instrumentalização das denúncias de escândalos de corrupção. As grandes manifestações que tiveram lugar em junho de 2013 também se inscrevem nessa estratégia. Já se tratava então de uma instrumentalização de lutas por reivindicações sociais difusas. Agora, sob o pretexto da “luta contra a corrupção”, estas mesmas forças conservadoras apresentaram reivindicações francamente reacionárias, chegando mesmo a defender o retorno da ditadura militar e pregando a intervenção estrangeira! Foram também feitos discursos anticomunistas.

A estratégia da direita e de uma parte da elite brasileira é instaurar um clima de nojo servindo-se do escândalo da Petrobras para desestabilizar o poder e a presidenta Dilma Rousseff?

A direita se baseia no escândalo da Petrobras para criminalizar o Partido dos Trabalhadores. Este clima político e social provoca a ira contra o governo e se tornou possível devido à difusão, durante várias semanas, de reportagens mentirosas nos canais de TV e jornais. Esta explosão midiática serve a uma corrente antinacional e antidemocrática. A palavra de ordem “Fora, Dilma!” é a expressão do revanchismo das forças derrotadas na eleição presidencial. Isto não tem nenhum sentido porque a presidenta apenas começa o seu segundo mandato. Por que ela deveria ser demitida quando desenvolve um diálogo permanente com as forças parlamentares e os setores organizados da sociedade? Ela própria tomou iniciativas para combater a corrupção. A palavra de ordem não faz nenhum sentido e traduz a expressão de uma luta política radical das forças de direita contra o governo e a esquerda.

Dilma Rousseff pode ser destituída?

Os argumentos da direita pelo impeachment são absurdos do ponto de vista jurídico. A não ser que se decida violar a Constituição, o que só seria possível por meio de um golpe de força, Dilma Rousseff não pode sofrer impeachment porque não cometeu “crime de responsabilidade”.

Há risco de esse movimento permanecer em um contexto econômico e social difícil?

As primeiras reações da mídia e dos partidos de direita após as manifestações mostram que o conflito político entre os dois campos deve intensificar-se, o que não é uma surpresa. Na verdade, este enfrentamento é a continuação da batalha política da eleição presidencial. Esta luta de fundo se desenvolve há muito tempo e ininterruptamente na sociedade brasileira. O que se espera das forças de esquerda e progressistas é que compreendam a natureza e a significação desses acontecimentos e que deem a resposta. Trata-se de um desafio que nos é apresentado de propor um programa claro e métodos adequados de luta. Sobretudo, é necessário não cair na defensiva para não pôr em causa os projetos que defendemos nas eleições. Apesar da crise mundial que cada vez mais atinge nossa economia e as finanças públicas, devemos continuar a luta por mudanças estruturais que correspondam às necessidades e aspirações do povo.

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