Celso Amorim: A mídia e o complexo de vira-lata

O ex-ministro das Relações Exteriores, ex-ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, esteve em São Paulo para o lançamento do seu livro “Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva”. Na ocasião, ele conversou com o jornalista Luis Nassif. Além de discutir aspectos da obra falou sobre o desenvolvimento da diplomacia brasileira ele tratou também do tema mídia.

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A política externa brasileira passa pelo duro crivo da mídia nacional. O envolvimento do país em discussões – sejam na América Latina ou no Oriente Médio – desperta paixões em uma imprensa que parece ter escolhido a dependência como o caminho correto para o desenvolvimento da nação.

Essa mídia é uma grande personagem no livro do ex-ministro Celso Amorim, que em conversa com o jornalista Luis Nassif relatou algumas das suas experiências.

“Eu vivi situações inacreditáveis. Por exemplo, eu chegar na Organização Mundial do Comércio, fazer uma queixa contra o Canadá no caso da vaca louca. Cinco ou seis países nos apoiam, o Canadá se defende e a manchete no dia seguinte em um grande jornal é ‘Brasil criticado na OMC’. É uma coisa que não há como entender. E aquilo era o governo Fernando Henrique, dito neoliberal e que tinha boa relação”.

Para ele, há um certo conforto na dependência. “Acho que é mais do que um complexo de vira-lata. Porque complexo de vira-lata dá a impressão que é apenas a pessoa se achar pequena. Aí é um pouco mais o caso de querer ser pequeno. Antigamente se falava da burguesia compradora. Hoje em dia acho que isso nem tem mais cabimento como conceito. Mas algo parecido. Você vive bem sendo advogado de uma grande empresa estrangeira, sendo uma filial, vendendo uns produtos. Dá muito mais trabalho você ser produtor de uma máquina do que você importar uma máquina”.

Fonte: Jornal GGN