A mídia burguesa, o ódio da middle class e o ataque à democracia

Muito se debate sobre o porquê da força obtida pelo discurso de ódio que teve lugar nas manifestações do dia 15 de março e 12 de abril. Palavras de agressão à presidenta Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, o desejo de morte aos petistas, a intolerância e o preconceito estampadas em cartazes nesses atos – mas, com mais intensidade na capital paulista e carioca – alertam para um discurso reacionário que pode prejudicar a democracia.

Por Joanne Mota, do Portal Vermelho

Odio - manifestações - SP
Um exemplo claro disso pôde ser testemunhado na manifestação contra o governo Dilma Rousseff na avenida Paulista, neste domingo (12), na qual Kim Kataguiri (na foto), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), criticou o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e disse que o PT “tem que tomar um tiro na cabeça”.

A palavra de ordem insuflou os presentes que bradavam termos violentos contra a qualquer um que se atrevesse discordar. A elite branca, presente na avenida paulista, por exemplo, deixou claro que está cansada do "governo de todos", do "Brasil pátria educadora", e, do "país rico, é país sem miséria".

É bom lembrar que a classe média “tradicional”, ou a chamada middle class, termo do momento, é composta, entre outros, por profissionais liberais, por executivos de médio e alto escalão de empresas, normalmente privadas, e de uma gama de trabalhadores que vivem “por conta própria”, cuja renda é alta e desenvolveram um ódio de classe aos pobres sem igual.

Sobre o termo middle class, originado do “self made man” estadunidense, ele enquadra aqueles que, perceberam, que através dos espaços coletivos de decisão não alcançarão seus desejos e, dessa forma, ocupam as redes sociais em ações de escopo individualista sem precedentes.

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Esse dois nichos encontram força em outro, a chamada mídia burguesa. Que de forma elegante e sorrateira empreende uma onda brutal de despolitização geral, o que encontra no seio das classes médias terreno fértil para emplacar discursos e visões de mundo conservadores. Um aparato tecnológico, cujo sistema institucional, de influência política, não foi alterado com a redemocratização e se consolida como arena intocável no debate público atual.
Desinformação pela TV

Quem resolveu acompanhar as manifestações pelo Brasil através da TV ou pelo rádio, se deparou com comentários forçados que versavam desde "presenciamos a insatisfação geral", "o povo se rebela contra Dilma", "esse é um exercício efetivo da liberdade de expressão". Aqui nos questionamos, quem é esse "povo" mencionado? De qual "insatisfação" falamos? E que conceito de "liberdade de expressão" autoriza um jovem a gritar na avenida mais famosa do país um pedido de tiro a um partido político?

Uma das possíveis explicações para tal virulência é o preconceito de classes sociais. Velado, ele nem sempre é admitido, mas existe. Esse preconceito faz com que as classes mais abastadas (predominantemente brancas) rechacem qualquer outro grupo que não faça parte do dele. Neste caso, o público das cotas, por exemplo, ou as novas empreendedoras domésticas.

E a elite branca foi além, e voltou a pedir intervenção militar. Nessa altura, podemos interpretar que a pessoa nada entende de história ou, então, por lógica, podemos entender que essa mesma pessoa que pede intervenção militar, pede tortura, pede terrorismo de Estado, pede assassinato, pede censura.

Herança maldita

Ao comentar essas manifestações de ódio, o professor de Filosofia Vladimir Safatle, diz que a intolerância demonstrada nas passeatas não é um fato novo e lembra que o mesmo discurso raivoso foi visto, por exemplo, em manifestações que precederam o golpe de 1964. Segundo ele, trata-se de um embate histórico entre direita e esquerda.

*Texto produzido com informações da TVT e do Portal Carta Maior.