João Amazonas, lições para o presente

Há exatos 13 anos, o povo brasileiro perdia um dos seus mais dignos filhos, um lutador imbatível pela democracia, pela justiça social, pela soberania do Brasil e pelo socialismo. Morria em São Paulo João Amazonas, o construtor e principal ideólogo do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Morreu na ensolarada tarde de 27 de maio de 2002, cinco meses após completar 90 anos, 67 dos quais integralmente dedicados à luta revolucionária.

Por Luiz Manfredini *, para o Portal Vermelho

João Amazonas

Militante do Partido já aos 23 anos, no curso da insurreição da Aliança Nacional Libertadora, em 1935, Amazonas se tornaria um dos brasileiros mais notáveis do século 20 e um dirigente comunista de envergadura internacional. Lutou contra a ditadura do Estado Novo, participou da reconstrução do Partido na Conferência da Mantiqueira, em 1943, foi deputado federal constituinte em 1946, opôs-se ao golpe kruchovista na União Soviética e liderou a reorganização o partido em 1962, quando surgiu a sigla PCdoB, que encarnava o autêntico partido revolucionário, marxista-leninista, fundado em 1922. Amazonas esteve à frente dos comunistas em sua luta sem quartel contra o regime militar de 1964 e organizou a guerrilha do Araguaia. De volta do exílio, em 1979, participou, até sua morte, das grandes lutas democráticas e patrióticas do povo brasileiro, sempre na primeira linha, sempre destemido e lúcido. Vasta, portanto, sua experiência. E vasto e fecundo o pensamento que desenvolveu, persistente e agudo, até o fim da vida.

Tático de excepcionais qualidades, Amazonas soube conduzir o partido no curso real dos acontecimentos políticos. E o fez com amplitude, mas sem perder jamais a identidade, sem diluir-se ao sabor das circunstâncias, sem desviar-se do rumo estratégico. “O proletariado”, defendia, “luta em todos os terrenos, utilizando as contradições existentes no campo adversário, defendendo as conquistas sociais, as liberdades democráticas, avançando passo a passo na estrada que conduz à revolução e o socialismo”.

Significativas foram suas contribuições teóricas, sobretudo com relação ao exame das primeiras experiências socialistas do século 20, derrotadas no Leste europeu no início dos anos 1990. A dissolução da URSS, em fins de 1991, foi o ápice dessa tragédia. A despeito do variado conjunto de causas dessas derrotas, que Amazonas analisou em profundidade, sobretudo no 7º Congresso Nacional do PCdoB, em 1992, saltavam-lhe aos olhos e à lâmina de sua crítica, as responsabilidades dos partidos comunistas no poder. Tratou disso em várias intervenções, sobretudo no artigo “Força decisiva da revolução e da construçao do socialismo”, de 1996. Afirmava: “Indubitavelmente, o Pcus degenerou. A derrota do socialismo começou precisamente com a degeneração dessa organização de vanguarda. Ainda no tempo de Stálin já apareciam sérios indícios. O Pcus burocratizava-se, desligava-se da classe operária e das amplas massas populares, caía na rotina e no formalismo, estimulava a fé supersticiosa nos dirigentes (…). Muitos quadros faziam ‘carreira’ no partido, visando a interesses pessoais”.

Para Amazonas, “socialismo e partido são inseparáveis. Apareceram juntos e caminharam juntos no histórico cenário dos entrechoques de classes”. Assim, “é impossível mudar o regime econômico e social sem ter como suporte fundamental uma organização de vanguarda”. E prossegue: “Para vencer, [o partido] precisa situar-se ideológica e politicamente no campo do proletariado”. “Os fracassos”, acentuava, “originam-se, em última instância, das posições de conciliação de classes, das ilusões pequeno-burguesas de que se pode triunfar nos marcos do regime capitalista, ou realizar as mudanças históricas adaptando-se às normas e ao estilo de vida burgueses”.

Não se poderia pensar em outro modo de homenagear o velho dirigente comunista, cujo pensamento e ação integram o patrimônio de 93 anos do PCdoB, senão destacando e difundindo as férteis reflexões que produziu e que se projetam para iluminar a contemporaneidade da luta revolucionária em nosso país.

“… no Partido reside o fator determinante dos sucessos
ou dos fracassos da revolução e da edificação socialista”.

João Amazonas.