Renato se despede da presidência confiante no futuro partidário

A 10ª Conferencia Nacional do PCdoB que teve início nesta sexta-feira (29), na capital paulista, com grande ato político com a presença da presidenta Dilma Rousseff, entre autoridades e lideranças políticas e sociais, abriu os trabalhos na manhã deste sábado (30) com um informe do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo.

Renato

Para Renato Rabelo, destinada para culminar o processo de sucessão da presidência nacional do PCdoB, o encontro já foi além e “tem sido proveitoso para ouvir e unir” os comunistas em torno do papel partidário num período que exige do coletivo dirigente uma reflexão ideológica e orgânica.
Além disso, analisar ainda o papel da esquerda “e das forças revolucionárias na busca da alternativa ao capitalismo, que vive a mais grave e profunda crise sistêmica e estrutural de sua história”, contou.

Realidade geopolítica e o papel dos Brics

“A crise capitalista global com o seu prolongamento coloca em xeque a prosperidade das nações, sem solução para a dramática crise social e o aumento veloz da desigualdade”, aponta Renato, afirmando também que o capitalismo não deixa saída para uma nova fase de crescimento econômico.

Diante dessa realidade geopolítica, “os Brics se afirmam com o sentido de acelerar a transição nas relações de poder no mundo em direção à multipolarização, ocupando o lugar de protagonistas na luta por uma nova ordem global”.

O presidente fez considerações ainda sobre o papel crescente da China como potência mundial e destacou a recente visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ao Brasil, fechando uma grande parceria com o país, ao assinar acordos para investimentos de 53 bilhões de dólares, sendo 35 acordos bilaterais, além da formação de fundos, investimentos na Petrobras e grandes planos de investimentos em infraestrutura, construção de ferrovia transcontinental, entre outras iniciativas de vulto, destacou.

“Penso que essa parceria entre o Brasil e a China tem um duplo sentido estratégico: atingir o sul do Continente, tendo o Brasil como parceiro especial numa complementaridade produtiva e mais, toda a América Latina, numa fase de grande carência de investimentos no país e no continente”.

Renato lembrou ainda que é preciso aprofundar e acelerar o processo de integração solidária da região, fato que tem o apoio do PCdoB, de acordo com a linha dos últimos Congressos, com o papel ativo de resistência à contraofensiva do imperialismo. Impulsionando, segundo ele, a unidade das forças populares e progressistas de solidariedade internacional.

Política brasileira

No Brasil, a situação que culminou no curso político atual teve origem no fim do primeiro governo da presidenta Dilma, que sofre hoje a escalada das forças conservadoras que já se manifestou no curso da própria sucessão presidencial de 2014, pelo fato de não aceitarem a quarta derrota consecutiva nas urnas.

“A esquerda sofreu danos provocados por intensa, prolongada e permanente campanha da grande mídia, de mais de uma década, concentrada seletivamente em criminalizar o PT, atingindo setores da base do governo e inclusive o PCdoB”.

Com isso, “passaram a impulsionar uma luta carregada de preconceitos, intolerância e obscurantismo trazendo à tona manifestações que não era vistas”, desde a véspera do golpe militar nos anos de 1960.

Diante dessa investida das forças conservadoras, revanchistas neoliberais e de ações extremadas,
ressaltou Renato, “é nossa convicção de que agora o ponto nuclear da nossa tática é precisamente defender a democracia, a Constituição, o Estado de direito. Este é o ponto de partida para a retomada da iniciativa política. Mas, para impulsionar a contraofensiva, a premissa para isso consiste em ampliar e somar forças políticas e sociais, e não o contrário”.

Frente ampla

O presidente comunista falou sobre a importância de articular uma frente ampla, com todas as forças possíveis interessadas na defesa da democracia, da economia nacional e da retomada do crescimento, como uma saída para enfrentar, isolar e derrotar a insistência golpista e o retrocesso sob domínio neoliberal.

“Nas atuais circunstâncias, as bandeiras dos que têm compromisso com a democracia, o Brasil e querem seguir avançando: defesa da democracia, da legalidade, do mandato legítimo e constitucional da presidenta Dilma Rousseff; defesa da Petrobras, da economia nacional e da engenharia nacional; retomada do crescimento econômico do país em estreira relação com as garantias dos direitos trabalhistas e o progresso social”, explicou.

Para Renato, o caminho para ampliar e acumular forças para a contraofensiva, através da frente ampla, se relaciona com uma agenda efetiva de reformas estruturais democráticas, por isso, “é necessária a edificação e o reforço de um bloco, ou frente progressista, política e social, dando-lhe assim maior consequência, com o fito de ampliar e congregar mais forças, para fazer frente à escalada da direita golpista e assim avançar para novo ciclo de mudanças estruturais”.

O presidente comunista destacou – como fez no discurso na presença da presidenta Dilma na noite anterior – que o PCdoB tem reafirmado persistentemente a confiança política na presidenta Dilma.

“Numa hora de perigo e gravidade, o governo merece apoio em suas iniciativas para a retomada do crescimento. Compreendemos que o grande desafio do segundo governo Dilma é realizar de forma exitosa a transição deste ciclo de grandes conquistas alcançadas até aqui, mas que chegou ao seu limite objetivo, a uma nova alternativa para cumprir um novo ciclo de maior prosperidade para a nação brasileira e os trabalhadores”.

Acredito que a presidenta tenha nitidez quanto à alternativa a seguir, pois ela persiste no esforço de traçar seus projetos e planos atuais como no caso do programa Brasil Pátria Educadora, nova fase do Programa de Concessões para investimentos na infraestrutura, Programa Nacional de Exportação e outros, para conformar a viabilidade de um projeto de desenvolvimento nacional, comprometendo maiores forças para sua realização em tempo hábil.

“Parece que ficou comprometido o entendimento de muitas parcelas da base de apoio do governo, sobre esse objetivo fim, ou seja, o projeto, o rumo a seguir. Isso, porque, a proposta de ajuste fiscal adquiriu a centralidade do debate, tornando-a como se fosse o próprio fim, ou a encarnação do novo projeto do governo”.

Linhas de construção partidária


Renato chamou a atenção para que em situações de crises mais agudas e de grandes ameaças e desorientação, “a questão central não é demarcar, diferenciar com o governo de que participamos, como sendo a salvação para fixar com nitidez nosso lugar político. A questão central é ser consequente e atuante no sentido do rumo e da ocupação de espaço do lado que defendemos para reunir forças a fim de sair do cerco e da defensiva. Impulsionar o governo e a aliança para retomada da iniciativa política. Assim, é que se torna nítido o papel protagonista do Partido”.

“A acumulação de forças que deve ter o sentido estratégico, visando o avanço ou a conquista para a hegemonia, está sempre em função do centro da tática, da sua aplicação na luta institucional em sinergia com a luta de massas e a luta de ideias. A nossa convergência na ação entre essas frentes básicas de trabalho se dá de acordo com a política traçada, a tática orientadora de cada fase”.

O PCdoB é um Partido permanente, não sendo um partido só para eleições, lugar comum da prática dos partidos em nosso país. Assim também o Partido deve ter e contar com uma agenda própria, com as bandeiras do momento político, realizando movimentos, seminários, mobilizações políticas próprias. O PCdoB tem sua natureza e missão voltada para a emancipação da classe trabalhadora, ligado aos intelectuais progressistas e patrióticos, mais vai se caracterizando e influenciando mais amplamente por sua marca de ser um partido de mulheres – líderes respeitadas e influentes – e de parcela significativa de jovens que ocupam um plano de elevada atuação política. O PCdoB vai incorporando e se tornando uma força respeitada pela ação consequente em defesa dos direitos civis, hoje, parte importante da luta pelo avanço democrático, e o Partido que encarna a luta contra o preconceito, a intolerância e o obscurantismo.

A linha de construção partidária deve estar sempre atualizada e, agora, diante da singular crise política, considerando a orientação atual do PCdoB para seu enfrentamento e reversão, é que define o modo e o meio da acumulação de forças. A esquerda está sob pressão e relativamente dispersa.

Para o PCdoB é necessário fazer valer as premissas do Programa e do Estatuto, o fortalecimento das instancias de direção do Partido, aperfeiçoando o rico método leninista da sinergia entre a ideologia, a política, a organização e a ligação com o povo.

Temos a oportunidade de continuar esse debate essencial sobre a construção do Partido e alcançar êxitos nas medidas e ajustes necessários nos estados, e em todos os níveis de direção, no processo da conferência que se desenvolverá no segundo semestre deste ano. Os quadros melhor preparados, a organização fortalecida constituem o fator decisivo para a aplicação das decisões e tarefas aprovadas, senão a política por mais justa que seja, torna-se letra morta. Contamos com quadros mais forjados e com o partido mais experiente. Tem sido sempre diante dos maiores desafios que os comunistas revelam sua maior convicção e intrepidez.

Sucessão da presidência nacional do Partido

Renato ressaltou que o PCdoB sempre se manteve à altura das exigências que emergiram do novo contexto histórico mundial e brasileiro. “O Partido segue se fortalecendo, avança. E isso constitui uma conquista da quarta geração de comunistas brasileiros, uma vitória de nosso aguerrido e talentoso coletivo de quadros, militantes e filiados”.

Nas duas últimas décadas, “o PCdoB foi chamado a renovar seu pensamento político diante de um período histórico marcado, pela terceira grande crise mundial do capitalismo, iniciada em 2007-2008, e pela abertura, na história do Brasil, de um novo ciclo político, a partir de 2003, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República”, lembrou.

Renato concluiu afirmando a sua convicção que sua sucessora, Luciana Santos, pela sua história de militância, talento e capacidades, elevado compromisso com o Partido, conduzirá o Partido avante – conquistará novas vitórias, rumo ao Brasil soberano, democrático e socialista, que é a razão de ser da legenda comunista. Emocionado, Renato disse: “Eu me despeço, comovido, da presidência nacional do Partido convicto do dever cumprido”.

À parte da tarde deste sábado (30) é dedicada às intervenções dos delegados. No domingo (31), a programação da Conferência conta com a deliberação e aprovação do projeto de resolução política, seguido de uma breve reunião do Comitê Central que encerrerá a atividade, com a proclamação da transição do cargo da presidência e vice-presidência nacional do PCdoB.