Justiça decreta prisão de envolvidos em corrupção no fisco do Paraná

O Ministério Público Estadual do Paraná considera foragido o empresário Luiz Abi Antoun, primo do governador Beto Richa, ambos do PSDB. Sua prisão foi decretada na quarta-feira (10) e, até o início da noite desta quinta (11), não havia sido preso. Outras oito pessoas, auditores da Receita Estadual, que tiveram prisões decretadas pela Justiça, também não foram localizadas.

MP: primo de Beto Richa e oito auditores estão foragidos

Os pedidos de prisão fazem parte da segunda fase da Operação Publicano, que investiga esquema de corrupção e sonegação fiscal na receita do Paraná. Na quarta-feira, 47 pessoas foram presas. Ao todo, a Justiça expediu 68 mandados de prisão, sendo 50 contra auditores fiscais.

A operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime, vinculado ao Ministério Público) apura a existência de um esquema organizado que cobra propina de empresários do Paraná. Auditores exigiam dinheiro de empresários para abater ou anular dívidas.

Abi Antoun é considerado um dos mais influentes e importantes membros da organização criminosa, segundo denúncia dos promotores. "É evidente que Luiz Abi Antoun atua não apenas como ascendência sobre os maiores escalões da Receita, mas também com toda sua influência política no governo estadual", segundo trecho da denúncia do Gaeco.

O documento traz foto de Richa ao lado de Abi Antoun e de Márcio de Albuquerque Lima, companheiro de corridas do governador e ex-inspetor geral de fiscalização da receita. Lima foi preso na quarta-feira. A denúncia também aponta que dinheiro da propina recolhida dos empresários abasteceu a campanha de reeleição de Richa, em 2014. O PSDB e o governador tucano negam a denúncia.

R$ 4,3 milhões do fisco foram usados na reeleição de Richa

De acordo com a delação premiada de Luiz Antônio Souza, preso em fase anterior da Operação Publicano e que se tornou colaborador da Justiça, podem ter sido usados até R$ 4,3 milhões ilícitos na campanha à reeleição do governador Beto Richa (PSDB).

Luiz Souza foi inspetor regional de fiscalização da Receita Estadual e, segundo sua delação, o esquema teria envolvido pelo menos sete delegacias do Fisco. Souza afirma que ouviu de Márcio Albuquerque de Lima, à época inspetor-geral da Receita, que Luiz Abi Antoun, primo de Beto Richa e apontado como "eminência parda do governo", teria em 2014 a expectativa de conseguir R$ 1 milhão para a campanha na Delegacia de Londrina. Nessa versão, a delegacia da Receita de Curitiba teria sido incumbida de arrecadar R$ 2 milhões.

"Com relação às demais delegacias, o compromisso era de que a própria IGF (Inspetoria Geral de Fiscalização) repassaria diretamente para Luiz Abi R$ 300.000 mensais, por cinco meses, que seriam recolhidos pela IGF dessas delegacias", diz documento do Gaeco, citando a delação de Souza.

De acordo com o delator, os R$ 4,3 milhões seriam formados por R$ 2 milhões de Curitiba, R$ 800 mil de Londrina e R$ 1,5 milhão das demais delegacias. Na versão de Souza, Márcio Albuquer de Lima entregava pessoalmente o dinheiro para Luiz Abi, em Londrina ou em Curitiba. Ele disse ainda que Abi sabia que a origem do dinheiro era ilícita.

O PSDB nega que tenha usado dinheiro ilício na campanha. De acordo com o partido, a campanha registrou todas as receitas e teve suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral. O PSDB também afirma que a arrecadação era integralmente feita pelo comitê financeiro da campanha, do qual Luiz Abi jamais participou. No total, a campanha de Richa à reeleição registrou receitas de R$ 26 milhões.