Morre ex-deputado cearense Paes de Andrade

Liderança política histórica do Ceará, Paes de Andrade nasceu em Mombaça no dia 18 de maio de 1927. Deputado Federal de 1963 a 1999, eleito presidente da Câmara dos Deputados exerceu o cargo no período de 15 de fevereiro de 1989 a 2 de fevereiro de 1991, nas fileiras do MDB. Como presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a Presidência da República por onze vezes no período de 1989/1990. O advogado foi ainda embaixador do Brasil em Portugal.

Em nota, o governador Camilo Santana lamentou a morte do ex-deputado federal. “Lamento a morte de Antônio Paes de Andrade, um dos grandes políticos da história do Ceará. Deixo aqui meu abraço e meus sentimentos à família e aos amigos, e declaro luto oficial de três dias no Estado”.

O ex-senador Mauro Benevides também comentou a falecimento de Paes de Andrade. “Durante cinquenta anos convivi de perto com o Paes de Andrade. Na fase mais aguda do autoritarismo, Paes integrava o grupo autêntico e, na tribuna da Câmara Federal, reclamava persistentemente o retorno à normalidade institucional. Em nenhum momento, tergiversou na defesa de tais postulados, até que, a 5 de outubro de 1988, o Brasil passou a vivenciar a sua reconstitucionalização com a promulgação da Carta Cidadã, da qual ele e eu somos signatários. Nas vezes em que o visitei, em Brasília, ele sempre expressava alegria por minha presença de alguns instantes, numa comprovação de que, lucidamente, confiava no nosso trabalho para que o País pudesse respirar sempre os ideais de liberdade e democracia.”

Opinião comunista

Luis Carlos Paes, presidente estadual do PCdoB-CE, também lamentou a morte do cearense. "Em nome dos quadros e militantes do PCdoB, expressamos a nossa solidariedade e as mais sinceras condolências aos familiares do amigo Paes de Andrade, companheiro de inúmeras jornadas de luta em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos do povo. Paes, entre outros atributos, excerceu com muita dignidade, inúmeros mandatos na Câmara Federal, onde caracterizou-se como um paladino da luta pela liberdade e retorno do estado de direito nos anos de chumbo da ditadura militar".

O deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE) manifestou pesar pela perda de Paes de Andrade e destacou a contribuição do ex-parlamentar cearense à política brasileira, ao longo de várias décadas, com uma ação relevante para o fim da ditadura cívico-militar e a consolidação do sistema democrático no Brasil. “Paes de Andrade teve muitas atuações de destaque, mas talvez sua maior contribuição tenha sido justamente a de ajudar a que voltássemos a respirar ares democráticos, após 21 anos de um mergulho em uma página muito infeliz da nossa história, que foi o período da ditadura”, destacou Chico Lopes, lembrando ainda a contribuição de Paes como autor de vários livros, sobre grandes temas do Nordeste e do Brasil.

“O Ceará e o Brasil perdem um grande protagonista da vida pública, da luta por ideais políticos, pela redemocratização do Brasil, pelo combate às desigualdades sociais, pela continuidade do País no caminho certo, da divisão das riquezas, do crescimento, do desenvolvimento, com mais justiça social”, complementou o deputado Chico Lopes.

Lopes destaca ainda que o PMDB, ao qual Paes foi filiado durante a maior parte de sua trajetória política, ajudou o Partido Comunista do Brasil a se manter no cenário político-partidário, abrigando a legenda comunista durante parte do período ditatorial e permitindo, assim, que nomes do PCdoB se candidatassem, mesmo quando a sigla ainda estava, para o poder oficial, na ilegalidade. Foi o caso do próprio Chico Lopes, eleito vereador de Fortaleza pela primeira vez formalmente pelo PMDB, embora já integrasse desde 1968 os quadros do PCdoB.

Saiba mais

O ex-deputado Paes de Andrade presidiu a Câmara dos Deputados logo após o fim da ditadura militar, tendo assumido algumas vezes a Presidência da República em lugar do então presidente José Sarney. Numa dessas ocasiões sancionou o projeto de construção do açude Castanhão.

Com intensa atuação contra o regime militar levou aos congressos da União Interparlamentar a manifestação das oposições brasileiras contra a censura à imprensa, a violação dos direitos humanos, as cassações de mandatos parlamentares, as prisões arbitrárias e a extinção de partidos políticos.

Paes de Andrade era presidente de honra do PMDB.

De Fortaleza,
Carolina Campos (com a colaboração de Dawlton Moura)

Matéria atualizada às 08h12 do dia 18/06.