Eduardo Cunha sai do armário e assume: “Sou oposição”
Em entrevista coletiva de imprensa no Salão Verde nesta sexta-feira (17), o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou oficialmente o seu rompimento com o governo da presidenta Dilma Rousseff. Ele disse que vai tentar no Congresso do PMDB, em setembro, convencer a legenda a seguir o mesmo caminho.
Publicado 17/07/2015 13:25
A declaração de guerra do presidente da Câmara dos Deputados veio depois do vazamento do depoimento do lobista Julio Camargo, que afirmou que Cunha teria recebido US$ 5 milhões em propina para viabilizar um contrato de navios-sonda da Petrobras para a empresa Toyo Setal.
“Saiba que o presidente da Câmara agora é oposição ao governo”, disse Cunha, afirmando que o rompimento se limita exclusivamente a ele. “Só posso falar por mim”, disse. “Eu vou tentar que meu partido vá para a oposição”, completou. Ele fala como se a sua insatisfação com a aliança do PT-PMDB não fosse notória e de longa data.
O PMDB, por sua vez, divulgou nota após a entrevista de Cunha em que diz respeitar sua posição, mas não demonstrou apoio à medida anunciada pelo deputado. A nota afirma ainda que “toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido”.
Apesar do tom ameaçador, Cunha diz que como presidente da Câmara não significa que haverá o “fim da governabilidade” e que vai manter a pauta dos projetos, inclusive de interesse do governo.
“O fato de eu estar rompido com o governo não vai afetar a relação institucional”, disse o peemedebista. “Eu, formalmente, estou rompido com o governo. Politicamente estou rompido”, observou.
Cunha também afirmou para quem quiser acreditar que apesar de passar oficialmente para a oposição não haverá influência na decisão de uma possível autorização de abertura de processo de impeachment contra Dilma. “Eu não vou fazer ato ilegal pelo meu posicionamento político”, declarou.
Disse ainda que o impeachment deve ser tratado “de forma constitucional e legal”. “Eu não vou mudar uma vírgula da minha posição sobre isso. Não tenho irresponsabilidade com as contas públicas. Não acho que tem que tacar fogo no país”, salientou.
O peemedebista afirmou que vai pedir a anulação da delação do lobista, porque o depoimento foi feito à Justiça de primeira instância. O depoimento de Julio foi feito ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, nesta quinta-feira (16). Por ser parlamentar, Cunha tem foro privilegiado e só pode ser investigado e julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o depoimento de Julio o juiz Sergio Moro o interrompeu para informar que tais declarações deveriam ser feitas no âmbito do STF. Já a Procuradoria-Geral da República (PGR), por meio de nota, informou que o depoimento não tem relação com as investigações em andamento no STF. A nota afirma ainda que “a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz”.
“Moro acha que é dono do pais”
Cunha voltou a apresentar a tese de que há um complô orquestrado contra ele pelo Planalto para fragilizá-lo. Na entrevista, ele não poupou críticas ao Ministério Público. Sobrou até para Sérgio Moro. “O juiz não poderia conduzir o processo daquela maneira. Vamos entrar com uma reclamação para que venha [o processo] para o Supremo e não fique nas mãos de um juiz que acha que é dono do país”, criticou Cunha.
E acrescentou: “Acha que é o dono do Supremo Tribunal Federal, do Superior de Tribunal de Justiça. Vamos entrar com uma reclamação no Supremo. Já que estou sendo acusado, quero que o processo vá para o Supremo”.
Para tentar se defender as acusações, Cunha diz que o delator “foi obrigado a mentir” com o objetivo claro “de constranger o Legislativo e que pode ter o Executivo por trás em uma articulação do procurador-geral da República”. Sem citar nomes, Cunha disse ainda que tem “um bando de aloprados” e que o governo não o quer na presidência da Câmara.