Vandré Fernandes: Uma história de amor e fúria
Nessa quinta (16), me deparei com uma frase nos jornais em que a presidenta Dilma foi categórica: Eu nunca desisti! Isso me fez lembrar do premiado longa de animação Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesie.
Por Vandré Fernandes*, no portal da UJS
Publicado 17/07/2015 12:49

Uma história conta a paixão de um jovem índio guerreiro pela sua cunhã que perpassa por fragmentos da história do Brasil e indo para um futuro imaginário. Quando o protagonista vê Janaína ser morta pelo branco, nosso jovem guerreiro tupinambá se joga do alto do Pão de Açúcar, porém não morre, vira um ser encantado e voa pela história brasileira à procura do seu grande amor. Aí ele fala, diferente da presidenta, que desistiu pela primeira vez.
Em seu longa, Bolognesie inverte a lógica. Ele faz suas (re)leituras a partir do olhar do perdedor. O jeito que o diretor introduz os portugueses no genocídio indígena é impactante. Ao ver sua amada morta e seu povo dizimado, nosso personagem central cita a frase de desistente.
Avançando na história do Brasil, ele aborda a Revolta da Balaiada, no Maranhão. Nosso herói encantado encontra Janaína novamente e ao lado dela, ele constituiu uma família e comercializa balaios. Mas a elite brasileira sufoca os comerciantes através dos encargos cada vez mais altos e da violência. Ele vê sua filha sendo estuprada por uma espécie de chefe da guarda do fazendeiro.
Sem meios de sobreviver e vendo a crueldade acontecendo com a sua família, ele se junta a revolta no estado do norte. Os balaios tomam a Vila de Caxias e montam uma junta provisória. O governo brasileiro vendo a situação fora do controle, investe financeiramente na criação de um exército que já nasce com o intuito de reprimir as manifestações populares e de resguardar os interesses do Império e dos fazendeiros. O coronel Luis Alves, nomeado governador do Maranhão, ergue uma fortaleza para aniquilar os revoltosos e sai vitorioso da batalha, sendo condecorado, mais tarde, como Duque de Caxias.
Novamente o herói tem seu amor interrompido e desiste novamente.
Bolognesie dá um salto na história e o seu personagem chega na ditadura militar (1964-1985). Janaína agora faz parte do movimento estudantil que logo parte para a luta armada. Ele entra para o grupo, para ficar ao lado do seu amor, que como ele mesmo diz: “De novo do lado mais fraco, mas o brilho nos olhos dela, me dava a certeza de estar do lado certo”.
O grupo é preso e torturado. Ele perde o contato com Janaína. Passado alguns anos, ele a reencontra e ela está casada e com filho. Novamente ele desiste.
Em 2096, num futuro distante, a crise da falta d’água gera uma guerra em escala mundial.
Mas, voltando ao personagem central, o nosso índio/balaio/guerrilheiro é agora um jornalista que denuncia as grandes corporações que desviam a água potável para a produção industrial do etanol. A população tem que se contentar com a água poluída do mar. Janaína é uma dançarina e o âncora das notícias, apesar das denúncias, se contenta com uma pequena cota de água potável e um dinheiro para levar a dançarina para a cama.
Porém, Janaína, além de dançar, faz parte de grupo guerrilheiro chamado “Água para todos”. O seu grupo sequestra o magnata da empresa ÁguaBrás querendo uma postura do governo brasileiro na redistribuição da água para beneficiar a população.
Nesse momento o diretor mostra que o herói na verdade sempre foi Janaína. Isso é dito pela boca do personagem central que frisa: “Janaína nunca desistiu”!
Infelizmente, o filme no Brasil não lotou os cinemas. Mas vale muito alugar em dvd ou baixá-lo para assisti-lo no computador, talvez comprá-lo, pois já é um clássico do cinema nacional.
E como diz a frase final do filme: “Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”. E nem sempre a história contada pelos vencedores são as melhores histórias. Foi uma feliz escolha de Bolognesie.
Ou seja, que a história seja contada por pessoas que não desistam facilmente. Histórias cheias de amores e fúrias.
Assista ao trailer: