Quer dizer que Augusto Nunes impõe perguntas aos entrevistadores?
Soubemos, há algumas semanas, que é Ali Kamel o autor das perguntas feitas pelos apresentadores nos telejornais da Globo. A informação foi dada pela jornalista Mariana Godoy*, feliz agora por ela mesma poder ao menos formular suas questões, longe da Globo. Nem Bonner, disse ela, escapa das perguntas de Kamel.
Por Paulo Nogueira, no DCM*
Publicado 24/07/2015 11:59

Dado que Kamel é o celebrado autor da tese de que não somos racistas, não é animador reproduzir, ao vivo, as questões que ele elabora no bastidor.
Mas agora outra notícia aparece na mesma área.
Augusto Nunes aparelhou de tal forma o Roda Viva que ele, como moderador, pode fazer secretamente perguntas que serão lidas por entrevistadores.
A revelação foi dada por uma vítima de Augusto, uma jornalista da Veja que passou por um ridículo nacional ao fazer uma pergunta absolutamente descabida ao escritor cubano Leonardo Padura.
O vídeo viralizou, tamanha o contraste entre a boçalidade da questão e a esperteza da resposta.
A porta-voz de Augusto Nunes começou a falar em fome e miséria em Cuba, sem nenhum conhecimento de causa.
Ouviu, primeiro, que ninguém deve falar da realidade de um país sem vivê-la. Depois, que numa quadra de São Paulo existe mais fome que em toda Cuba.
Se a repórter, ou melhor, se Augusto Nunes lesse o básico sobre Cuba não cometeria tal estupidez.
Cuba tem múltiplos problemas, mas fome não é um deles. Prova disso são os indicadores de saúde do país, entre os melhores do mundo.
Nenhum país faminto tem a expectativa de vida de Cuba, quase 80 anos para homens e 82 para mulheres.
Isso é bem mais que o Brasil, na casa dos 70, e mais até que os Estados Unidos.
Há um ponto curioso no papel de fornecedores de perguntas de Kamel e de Nunes.
Fazer o que eles fazem é uma atitude extraordinariamente assistencialista. E assistencialismo é uma das maldições da humanidade segundo o pensamento conservador de ambos.
Ensine a pescar, em vez de dar o peixe.
Aplicado a entrevistas jornalísticas, isso significa: ensine a fazer perguntas em vez de entregá-las prontas ao repórter.
Poucas coisas são mais desmotivadoras, para um entrevistador, do que dizer o que lhe mandaram dizer.
Você perde o controle de tudo.
Fora tudo, fica o seguinte. Se o chefe acerta, tudo bem. Mas se ele erra, como fez Augusto Nunes ao colocar por terceiros Padura contra a parede, o vexame é seu.
Caso se torne público o caso, como este se tornou, você é tratado não apenas como idiota, mas como teleguiado.
Não é fácil a vida nas redações hoje em dia. Você tem que reproduzir, apenas, os interesses dos donos.
E essa rotina se torna patética quando, além do mais, você é obrigado a fingir que são suas perguntas elaboradas por gênios como Kamel e Nunes.