Haroldo Lima: Seguir os que pregam a união pela estabilidade  

Com uma voracidade infernal, a grande mídia vendeu, durante muito tempo, a todo o povo, uma fraude, o inverso da verdade. Fez aquilo que Marx em “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte” dizia que poderia acontecer: “a consciência humana, trabalhada de maneira deformada, por tempo prolongado, pode inverter sua visão objetiva, e atribuir a amigos os seus problemas e a inimigos as suas esperanças”.

Por Haroldo Lima

Enquanto na Câmara dos Depurados, o Presidente Eduardo Cunha exibe uma irresponsabilidade acima do aceitável, promovendo uma “pauta-bomba” contra o país e manipulando formas regimentais para impor projetos retrógrados derrotados em Plenário, a Nação toma conhecimento de que os presidentes da Fiesp e da Firjan, as duas maiores entidades representativas dos industriais de São Paulo e do Rio de Janeiro, lançaram uma Nota à população e às representações políticas apoiando a proposta de União pela Estabilidade das instituições defendida pelo Vice-presidente Michel Temer.

Os dois líderes empresariais Paulo Skaf e Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira se posicionaram em um sentido claramente oposto ao da irresponsável oposição partidária-jurídica e midiática que trabalha para desestabilizar o país e lançá-lo em uma aventura golpista reacionária de alcance imprevisível.

Formou-se no Brasil um grupo que está agitando a vida nacional, formado por membros do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal, do Parlamento e da grande Mídia brasileira, que, a partir da descoberta de uma quadrilha de facínoras que atuava dentro e fora da Petrobras, tomou rumos extremamente diferentes do que seria natural. O objetivo subjacente a toda sua movimentação não é o de prender exemplarmente os membros comprovadamente comprometidos com a quadrilha de assaltantes, mas o de desestabilizar o governo recém-eleito por 54 milhões de brasileiros, dirigido por uma mulher reconhecidamente honrada, patriota, progressista e guerreira, que procura tirar o país da grave crise em que se encontra.

A responsabilidade da crise não pode ser negada, origina-se na crise internacional do capitalismo, que vem desde 2008, que levou países como Grécia, Portugal, Espanha, Argentina a grandes dificuldades, e reduziu de 50% o ímpeto desenvolvimentista do próprio “socialismo de mercado” da China.

Que não se escamoteiem os erros cometidos pelo o governo da presidenta Dilma Rousseff, entre os quais o de estar patrocinando um ajuste fiscal no qual os trabalhadores brasileiros, os membros das famílias mais pobres, pagam pelo ajuste a mesma proporção que os miliardários de nosso país; de estar pondo em prática uma política monetária com os juros mais elevados do mundo, fazendo da nossa terra a pátria auspiciosa dos banqueiros.

Esses erros e outros são verdadeiros, e são problemas que apoiadores e opositores do governo poderiam contestar e lutar por mudá-los. Mas não são mudanças nessa política que quer o grupo golpista que age com a maior desenvoltura. O que ele quer é justamente aprofundar esse caminho nefasto, deixar mais liberada a ação do grande capital local e internacional, sedento de auferir mais lucros às custas dos trabalhadores e pobres do Brasil. Quer sim, tirar direitos do povo, aumentar a força do capital banqueiro e diminuir o papel do capital produtivo.

Vemos hoje as ruas abarrotadas de carros “atrapalhando o tráfego”, como diria o Chico Buarque. Mas quem comprou tanto carro? Foi o povão, a partir dos salários advindos dos empregos que tinham e das políticas creditícias que Lula e Dilma promoveram. Vemos os aviões abarrotados de passageiros que tiram a folga de quem viajava sem acompanhante ao lado. Mas quem está viajando tanto? Exatamente quem nunca tinha entrado em um avião. Vemos negros, pobres e índios baterem às portas das universidades. Mas, quem são estes “intrusos”? Precisamente os que sempre foram excluídos das Academias, e que pelos caminhos abertos por Lula e Dilma apresentam-se com seus legítimos direitos conquistados.

Com uma voracidade infernal, a grande mídia vendeu, durante muito tempo, a todo o povo, uma fraude, o inverso da verdade. Fez aquilo que Marx em “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte” dizia que poderia acontecer: “a consciência humana, trabalhada de maneira deformada, por tempo prolongado, pode inverter sua visão objetiva, e atribuir a amigos os seus problemas e a inimigos as suas esperanças”. É trágico, mas isto aconteceu. Amplas parcelas de nosso povo não estão sabendo distinguir aquilo que Mao Tse-tung dizia: “na guerra é necessário saber quem são seus amigos e quem são seus inimigos”.

Se a atitude irresponsável dos Eduardos Cunhas deve ser rotundamente denunciada e repelida, devemos saudar também a posição de líderes empresariais como os presidentes das Federações das Indústrias de São Paulo e do Rio de Janeiro. Que a iniciativa que tomaram de assinar um documento conjunto conclamando a União de todos pela estabilidade institucional, seja reforçada por líderes de outras categorias, como das Centrais de Trabalhadores, de estudantes, de religiosos, seja da Igreja Católica seja de outras igrejas, de artistas etc.

Na época da ditadura, arrostando mil dificuldades, íamos às ruas bradando “o povo unido jamais será vencido”. Terminamos pondo fim ao regime de exceção, após 21 anos. Agora temos que ir de novo – e o dia 20 de agosto próximo é uma boa oportunidade – para dizermos “o povo unido quer a democracia”. E espancaremos os golpistas.