Em folheto, PM paulista associa crimes a indivíduos negros

No violento mundo do crime com o qual se depara a Polícia Militar de São Paulo diariamente não existe gente branca, parda, cabocla, indígena e oriental, só negros. O crime tem cor preta, de acordo com livreto de divulgação distribuído em escolas de Diadema, no Grande ABC, pela instituição.

Folheto racista da PM - Reprodução

Essa é a conclusão a que induzem as ilustrações do panfleto entregue a estudantes para descrever a atividade criminal e seu combate no estado de São Paulo. O que deveria ser instrumento de alerta e orientação aos alunos, pais e à população em geral, para aprimoramento de medidas preventivas pessoais contra a abordagem criminosa, gerou polêmica.

Defensores dos direitos humanos e movimentos sociais que combatem o racismo e todas as formas de discriminação condenam o viés racista dado à edição, assinada pelo Centro de Comunicação Social da PM paulista, conforme relata reportagem do “Seu Jornal”, da TVT, reproduzida pelo portal Rede Brasil Atual (RBA).

Resultado: o que tinha o propósito de ser informativo, tornou-se “mico” e reprovação, com pedido de retratação pública até de juristas. Nas ilustrações do panfleto, indivíduos de características raciais de negros, com marcantes cabelos estilo black power, compõem cenas de bandidos em ação, sempre à espreita e de arma em punho, aguardando a oportunidade para agir contra os desavisados.

O integrante do Coletivo Hip Hop, Thiago Fernandes, questionou a abordagem do material. “Por que só o negro? Por que somos retratados dessa forma? Nós temos que levantar nossa bandeira e dizer que está errado, que isso não é desse jeito”, reprovou.

Fernandes acredita que o estereótipo pintado pela publicação ajuda a confundir as crianças às quais o livreto deveria oferecer esclarecimento e educação.

Para o secretário Nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores (PT), Nelson Padilha, as ilustrações revelam “um ato falho onde, de maneira criminosa, (a PM) assume o racismo que impera em algumas instituições do estado”. Ele acredita que o descuido com a edição também traduz “o modo tucano de governar”.

Padilha se revelou indignado com a reação da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) ao episódio. “Me incomoda a OAB afirmar que espera uma retratação. Racismo é crime e como tal deve ser tratado”, disse. O dirigente do partido defende a punição, “com o rigor da lei, dos criminosos que elaboraram, aprovaram e autorizaram” o material.

Para Padilha, o governo paulista anda na contramão do Brasil, se comparado à postura do governo federal de promotor de políticas de igualdade racial. “A certeza da conivência da Justiça é que move as pessoas que assumem dessa forma a defesa de uma sociedade racista e fascista”, lamentou.