Grupos de sarau de todo o país se reunirão na Bienal do Livro no Rio
Dos bares, das praças e das ruas, a efervescência cultural que impulsiona grupos de sarau por todo o país será compartilhada entre os dias 4 e 6 de setembro, na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Pela primeira vez em uma feira de livros desse tamanho, com público previsto de 660 mil pessoas, artistas e poetas vão poder trocar experiências entre si e com o público, compartilhar linguagens e declamar muita poesia, com microfone aberto.
Publicado 16/08/2015 12:26
A experiência é organizada no espaço SarAll, que reunirá na bienal nomes da cena atual, como o poeta Sérgio Vaz, da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), que promove eventos para 400 pessoas, em São Paulo, além de percussores, como os poetas Bernardo Vilhena – um dos criadores do grupo Nuvem Cigana, marco na contracultura na década de 70 – e Moduan Matos, que é reconhecido por ter levado o modelo de saraus para a Baixada Fluminense, onde ainda é frequentador deles.
Com dois anos completados recentemente, o Sarau V (de Viral), de Nova Iguaçu, também convidado para a bienal, começa neste ano a fazer atividades itinerantes na cidade. A idealizadora, Janaina Tavares, acredita que a poesia deve ser vivenciada de perto. “Os poetas que a gente estuda, os cânones, eles estão mortos, mas nos saraus, estamos ao lado dos poetas vivos, da nossa cidade, da nossa realidade. O Moduan [Matos], por exemplo, é frequentador do Sarau V”.
Frequentado por 100 pessoas a cada sessão na favela Cidade de Deus, o Poesia de Esquina também tornou-se referência no Rio. A organizadora, Viviane de Sales, diz que os eventos são catalisadores da cultura local. “O sarau é a grande novidade na região metropolitana. As trocas se dão sobre as questões da periferia, sob o olhar da heterogeneidade, neste caso da Cidade de Deus”, conta ela, que lança este ano uma editora para divulgar os livros dos escritores da favela.
Os espaços onde os saraus ocorrem são variados e incluem praças, cantinhos nas ruas e bares, como é o caso do Poesia de Esquina e do Cooperifa. “Como diz Sérgio Vaz, o bar é um dos espaços que as pessoas da periferia podem transformar em espaço cultural. Por isso, temos um sarau que é frequentado por dona de casa, morador, pedreiro, empresário, poetas e artistas de várias partes do Rio”, cita Viviane. “É tudo aberto e democrático”.
Para o curador do SarAll, Ecio Sales, a importância dos saraus, que ele tenta reunir na bienal do Rio, é movimentar as comunidades e a cultura a relativo baixo custo. “É uma recuperação da energia popular das ruas, com a vantagem de não precisar de uma infraestrutura muito cara: pega um microfone, uma caixa de som e faz um sarau”, disse. Ele estima que o Rio tenha mais de 100 grupos de sarau com a oportunidade de se articular em rede no evento.
A 17º Bienal do Livro começa em 3 de setembro, no Riocentro, na zona oeste do Rio, com 200 autores convidados, de 27 países. Este ano, o evento homenageia a Argentina, que trará 14 artistas e promoverá também shows musicais e mostras. É esperada a presença da presidenta das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, que falará sobre direitos humanos.
Na programação principal estão debates com consagrados ilustradores, críticos literários e escritores brasileiros, como Ferreira Gullar e Ruy Castro, rodas de conversas sobre temas da atualidade e vasta programação infantil. As entradas custam R$ 16 a inteira e R$ 8 a meia.