Apoio a Cunha evidencia divisão na Força Sindical

Recentemente a Força Sindical realizou um ato com o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, e boa parte da militância declarou apoio irrestrito ao político, inclusive com palavras de ordem como “Cunha, guerreiro do povo brasileiro”. O secretário-geral da entidade, João Carlos Gonçalves, o Juruna, descreveu o episódio como uma “cena lamentável”, em artigo publicado originalmente pelo portal UOL.

Juruna - Foto: Mundo Sindical

No artigo, Juruna diz que muitos sindicalistas ligados à entidade foram pegos de surpresa com a atitude que, segundo ele, causou “grande constrangimento para a central”. O dirigente sugere ainda que talvez seja melhor o Paulinho da Força – presidente licenciado – “seguir seu caminho (…) exclusivamente pela atividade partidária”.

Em conversa com o Portal Vermelho, Juruna ressaltou o caráter “multipartidário” da Força Sindical, que tem estabelecido diálogo com diversos setores políticos. Ele acredita que a atual polarização, onde um grupo reacionário faz manobras políticas em direção a um golpe parlamentar, e outro setor progressista desenvolve ações em defesa da democracia, não dialoga com a classe trabalhadora. “Não é um debate entre impeachment e democracia que ganha os trabalhadores, mas sim medidas concretas”.

Sobre as medidas concretas, ele destaca a reunião realizada nesta terça-feira (25) com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, onde o diálogo entre governo e sindicalistas foi fortalecido. Para Juruna, medidas governamentais como o adiantamento do pagamento do 13º salário aos aposentados, e o Programa de Proteção ao Emprego são soluções que afetam diretamente a vida da população e por isso são vistas com bons olhos pela central.

Juruna preferiu não comentar os conflitos da central sindical evidenciados após o encontro com o presidente da Câm e autorizou o Portal Vermelho a publicar na íntegra sua nota onde discorda do posicionamento da Força Sindical ao ovacionar Eduardo Cunha.

Leia a nota:

Manter a unidade e a pluralidade da Central

O ato de sexta-feira (21), no Palácio do Trabalhador, sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, quando a Força Sindical recebeu o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, descambou para uma cena lamentável: o que era para ser uma atividade institucional e imparcial, para conversar sobre as leis e medidas que estão em tramitação ou que já foram votadas, transformou-se num ato partidarizado, de apoio a um político que está sendo denunciado pelo Ministério Público.

Por João Carlos Gonçalves*

Os gritos de guerra a favor de Cunha, ouvidos no ato, configuraram uma ação deslocada e sem sentido no atual contexto. Isso porque a democracia deve funcionar para todos. Ninguém está acima da justiça e, neste sentido, precisamos aguardar as conclusões do judiciário no processo que envolve o político em questão.

Repito: o que era para ser uma atividade sindical, meramente institucional, com pauta definida pelo presidente Miguel Torres, transformou-se em um ato de apoio político, e isso não estava na pauta.

Nossa central tem tentado buscar o equilibro. O presidente Miguel Torres tem conversado com os principais atores sociais, como os presidentes de centrais sindicais, encontrou-se com o ex-presidente Lula, marcou para conversar também com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o vice-presidente da República, Michel Temer. Visitou os jornais Folha de S. Paulo, O Globo, e O Estado de S. Paulo. Tem publicado artigos em páginas nobres dos principais jornais sempre na defesa dos interesses dos trabalhadores.

O que aconteceu na última sexta-feira (21) com a transformação de uma atividade sindical em uma ação partidária, não condiz com o caminho que temos tomado. Milhares de sindicalistas filiados à Força Sindical em todo Brasil foram pegos de surpresa pelo noticiário gerando um grande constrangimento para a central.

Esse tipo de envolvimento pode levar à desqualificação e vulgarização de nosso presidente, que nunca pode perder de vista que representa uma entidade grandiosa em números quantitativos, mas sujeita a “testes de qualidade” diariamente.

A Força Sindical para ser levada em conta cada vez com mais seriedade pelos atores que decidem no país – representações de trabalhadores, empresários, intelectuais, universidades, grandes entidades da sociedade civil, Igrejas dignas, Congresso Nacional, Poder Judiciário e Governos–, deve se dar o respeito como entidade sindical multipartidária, como está colocado desde a fundação, e não joguete e instrumento de partidos ou pessoas, como tem se caracterizado os companheiros da CUT ao longo de sua história. Nós somos diferentes deles desde a nossa fundação.

Talvez tenha chegado o momento de falarmos com muita franqueza e sempre com lealdade, se já não é a hora de o companheiro Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que por sua própria vontade e decisão optou exclusivamente pela atividade partidária, seguir o seu caminho e a exemplo do companheiro Luiz Antônio de Medeiros, no passado, continuar ao nosso lado, nos apoiando, nos ajudando com a sua experiência e bagagem, mas deixando que a central siga o seu próprio caminho, tenha a sua posição permanente em defesa de políticas democráticas, do respeito a institucionalização do Estado de Direito Democrático a duras penas conquistado e, sobretudo, de uma coerente e combativa política sindical em defesa dos trabalhadores e suas famílias, que é o nosso objetivo maior.

*João Carlos Gonçalves, o Juruna, é secretário-geral da Força Sindical