Deputado Valduga faz defesa do acolhimento a imigrantes

"Precisamos acolher os refugiados árabes, imigrantes da dor como nossos antepassados"
Cesar Valduga

Vivemos em um país de espírito acolhedor. Cito isso em referência ao recebimento de povos que sofrem com mazelas em seus países, e temos dado oportunidade de um recomeço a estas pessoas. Os primeiros registros foram o envio de degregados às terras de Santa Cruz ela Coroa Portuguesa.
Estes degregados ajudaram a povoar estas terras e a construir os primeiros núcleos originários de centros urbanos, como Salvador e São Paulo. No século XVIII, com os processos de fome e violência de uma época de guerras na Europa, o Brasil, o Sul do país, em especial recebeu milhares de imigrantes.
Italianos e alemães que fugiram da pobreza que assolava a Europa, por exemplo, encontraram aqui as condições de retomarem suas vidas. Mesmo com todas as dificuldades mantiveram firme o espírito de superação e empreendedorismo, e se tornaram peças fundamentais no desenvolvimento de nossa região, e de nosso Estado.
A tragédia que tem assolado o mundo árabe e o desastre humanitário dos refugiados, fato sido recorrente na mídia internacional, são reflexos do conflito no Oriente Médio e da falta de sensibilidade dos países europeus. Acompanhamos nas últimas semanas relatos perturbadores das condições a que são expostos aqueles que fogem da guerra em seus países. São famílias inteiras que se amontoam em pequenos botes e se lançam mar aberto em busca de paz.
Uma cena que representa a dimensão deste drama humanitário é a imagem do corpo do menino sírio, Alan Kurdi, encontrado numa praia turística da Turquia após a família ter tentado fugir da guerra em seu país. Já em julho de 2013, em visita a Baía de Lampedusa, na Sicília, o Papa Francisco denunciou a indiferença dos países europeus com o drama dos refugiados.
Lampedusa é, ao mesmo tempo, o sonho de paz para milhares de imigrantes que se arriscam pela rota do mediterrâneo, e o exemplo de até que ponto a desumanidade dos governantes das grandes potências pode chegar. Quem ao assistir as cenas perturbadoras do desespero destas pessoas não se pergunta: Qual a origem deste desastre humanitário?
A chamada Primavera Árabe, financiada pelos Estados Unidos na corrida pelo petróleo e na promoção da indústria bélica, potencializou grupos extremistas como o Estado Islâmico, que nada tem a ver com a verdadeira fé da maioria dos árabes. A sombra golpista que devastou o mundo árabe é a mesma que se empenha na desestabilização da democracia e da autonomia da América Latina.
Um vulto assombroso e desumano paira sobre os países que não se submetem aos interesses dos grandes conglomerados empresariais, cujos emissários tem estreita relação com governos da Inglaterra, Alemanha, França e o próprio governo americano, e estes governos não se constrangem em ter suas mãos sujas do sangue desses povos.
O governo brasileiro tem sido uma referência efetiva, em solidariedade aos refugiados sírios. Esta semana, o Comitê Nacional para os refugiados decidiu prorrogar a regra que facilita a concessão de vistos para refugiados da síria.
Em vigor há dois anos, esta regra já permitiu, até agosto deste ano, que 2077 cidadãos sírios pudessem ter, no Brasil, a possibilidade de realizarem o sonho de uma vida de paz. Dos 8.4 mil refugiados sírios acolhidos legalmente pelas nações do mundo, um quarto está em nosso país. A Espanha acolheu 1335, Itália 1005, a Grécia 1275, e os Estados Unidos, apenas 1243.
Da mesma forma que Santa Catarina acolheu os imigrantes haitianos e senegaleses recentemente, com o empenho do governo estadual e de nossa Secretaria de Estado de Assistência Social, precisamos também acolher os refugiados dos países árabes.
Assim como nos orgulhamos de nossos antepassados, imigrantes como estes dos países árabes, não podemos nos furtar a propor ações que contribuam para amenizar este drama humanitário. Em Florianópolis, existe uma iniciativa do centro islâmico, coordenada pelo sheik Amin al Karan, que já acolheu, só este ano, 80 refugiados. Precisamos contribuir com esta demanda, e para isso, faremos indicação ao governo do Estado pedindo que dê o suporte necessário aos refugiados árabes, assim como vem fazendo com os haitianos e senegaleses. Reafirmamos o compromisso do PCdoB com a liberdade dos povos e a sua autonomia, e nossa solidariedade com os povos árabes .
*César Valduga é deputado estadual e dirigente do PCdoB/SC