Walter Sorrentino: Batalhas decisivas

A esquerda brasileira precisa ser firme e hábil em meio aos tormentosos acontecimentos que acometem a nação, o governo progressista e a própria esquerda política.

Por Walter Sorrentino*

golpe nunca mais

Ela tem lado definido, e ter lado significa jamais abandonar as bandeiras de luta em defesa dos interesses do povo, do desenvolvimento nacional soberano e da democracia. Isto é um forte atributo da esquerda brasileira.

Ao mesmo tempo, considerando que a luta social organizada é diretamente uma luta política, principalmente nas condições presentes do país, ela precisa saber se movimentar em meio ao curso político da vida concreta, dos desenvolvimentos contraditórios e dos comportamentos de todas classes e camadas sociais.

Aqui se atua no terreno da ciência e arte de focalizar elos a cada momento que permitam avançar ou evitar retrocessos, preservar conquistas ou ampliá-las, flexibilidade tática para estabelecer com precisão os alvos e isolar os adversários, ampliando forças básicas e mesmo provisórias para sustentar os embates. Isso tempo base uma estratégia determinada e por vértice uma justa avaliação da correlação de forças.

Hoje, o que une a maior parte da esquerda política e social é um projeto nacional de desenvolvimento soberano, democrático, popular e de integração regional sulamericana. Quanto à situação concreta, esse projeto vive um impasse, onde as bases de sustentação política e social a tal projeto atuam em meio a uma situação desfavorável. E o projeto em curso vive também o esgotamento de um ciclo, o que torna exigente um novo esforço de unidade à base de renovação programática para levá-lo adiante nas circunstâncias atuais do Brasil e do mundo.

O que não faltam na presente situação de crise política no país são contradições. Em meio disso se precisa encontrar os eixos para manter e perseverar conquistas alcançadas, enfrentar a ofensiva conservadora e criar condições para retomar a iniciativa política, isolando alvos centrais para o enfrentamento, neutralizando alvos secundários e unir o máximo de forças com unidade de ação em torno de bandeiras focadas em ultrapassar os imensos obstáculos presentes.

Do ponto de vista estratégico, o fator mobilização popular é o mais decisivo.

O Brasil conheceu desde 2013 profunda mudança na correlação de forças, expressa afinal nas eleições passadas e na ofensiva conservadora que persiste até hoje, sem mencionar os retrocessos políticos e sociais promovidos por um Congresso muito mais conservador e disperso.

Nesse jogo contraditório em que é mestra a histórica política brasileira, há movimentos decisivos que incorporam e subordinam objetivos mais imediatos, sem os quais não haverá avanços.

O PCdoB argumenta pelo esforço central de barrar o golpismo, preservar a democracia e o mandato constitucional presidencial. Essa é a condição para não pôr tudo a perder em termos do ciclo político aberto pelas forças populares nas últimas duas décadas na América do Sul e há quatro mandatos consecutivos no Brasil. A clara sinalização de que isso não pode ser nem será aceito pelo povo organizado é um dado fundamental nesta hora.

Ligado a isso se precisa também a luta decidida contra as medidas do ajuste fiscal e econômico que se voltam contra os direitos dos trabalhadores e do povo, dos serviços públicos de qualidade e universais, e da retomada do crescimento econômico. Essa é uma justa disputa política que se trava no próprio campo do governo.

Não se pode desconhecer, entretanto, que algum ajuste é necessário; ele se impôs por força das condições da crise mundial e da própria política econômica aplicada no sentido de minorar os efeitos dela. Nenhum país do mundo, principalmente entre os maiores e mais influentes, esteve imune à crise. Não se pode ser voluntarista nessa matéria.

Nesse sentido, impõe-se lutar para que o ajuste seja pago sobretudo pelo “andar de cima” e criar as condições mais propícias para superar essa pauta. Um palco de luta unitária imediata pode se dar em torno da criação da CPMF, aumentando a alíquota para abarcar a motivação e interesse de prefeitos e governadores, cuja arrecadação se aplique não à Previdência e sim à seguridade social que abarca também a saúde.

Barrar o golpismo e ganhar a batalha para dar alguma folga fiscal às contas do governo não às custas do povo trabalhador. Essas são as questões pontuais mais decisivas desta hora. Outras, logo adiante, se colocarão. Essas são imediatas.

Com isso o governo ganha margem de manobra e tempo político, sinaliza as bases políticas e sociais que tudo fará para o pais retomar mais rapidamente a rota de baixa dos juros e retomada do crescimento – dando tempo às diversas iniciativas econômicas de futuro que a presidenta Dilma já vem instituindo em termos de investimentos.

O que não se pode perder de vista é que ambas, por óbvio, por experiência política e pela responsabilidade que temos com a democracia, o povo e o país, exigem reafirmar a confiança política na presidenta Dilma, para não fazer o jogo dos poderosos adversários históricos que não suportam a afirmação nacional soberana e um povo livre.