Alemanha pode erguer novo "Muro de Berlim" contra refugiados

Enquanto a política de refugiados do governo alemão enfrenta o descrédito da maior parte da população, a maioria dos deputados do próprio partido da chanceler Angela Merkel arquiteta planos para construir um sistema de defesa de arame farpado ao longo das fronteiras orientais da Alemanha, segundo relata o jornal Bild.

Refugiados caminham por planície com destino à Alemanha

De acordo com a publicação alemã, 188 dos 310 deputados que formam a coligação governista dos partidos conservadores União Democrática Cristã (UDC) e União Social Cristã (USC) têm apoiado um "plano secreto" para tentar conter o fluxo de refugiados entrando no país, que atualmente é estimado em cerca de 10 mil pessoas por dia.

O jornal relata que as propostas do projeto incluiriam a construção de uma cerca de arame farpado ao longo das fronteiras orientais da Alemanha – medida semelhante à tomada pela Hungria – e a criação de barricadas similares às que foram destruídas após a queda do Muro de Berlim.

O deputado Christian von Stetten (UDC), defensor da iniciativa, disse ao Bild que o governo deveria considerar a opção de levantar novos muros na fronteira do país, e que o plano seria votado dentro de duas semanas.

"Temos que parar o influxo de refugiados. Não deve haver tabus sobre a tomada de um outro olhar sobre nossas fortificações de fronteira", opinou.

A declaração vem na sequência de um pedido feito pelo líder de uma das maiores organizações da polícia alemã para que o governo construísse uma cerca ao longo da fronteira com a Áustria. Rainer Wendt, presidente da União Federal de Polícia da Alemanha (DPolG), disse que tal medida desencadearia uma reação em cadeia entre outros países da Europa Central e do Leste Europeu, interrompendo enfim o fluxo de refugiados para o continente – que ele alega ser insustentável nos níveis atuais.

"Se nós fecharmos nossas fronteiras desta forma, a Áustria também irá fechar a fronteira com a Eslovênia. Isso é exatamente o efeito que nós precisamos", disse o líder policial.

O deputado von Stetten, por sua parte, afirmou estar confiante de que o governo vai conseguir elaborar um plano para frear o número crescente de refugiados, mas reconheceu que o chamado plano secreto para construir um muro ao longo das fronteiras do país poderia se tornar realidade.

"Se esta hipótese se provar errada ao longo da próxima semana, nosso grupo parlamentar terá que reagir", advertiu o parlamentar.

A ideia de levantar um muro de tamanhas proporções na Alemanha carrega um significativo peso histórico no país que encarnou por quase 30 anos, no simbolismo do Muro de Berlim, a divisão do mundo em dois blocos isolados.

Além disso, o plano também representa um verdadeiro pesadelo político para Angela, que tem rejeitado todas as propostas neste sentido, inclusive condenado a Hungria por ter adotado medidas semelhantes.

Neste contexto, o projeto também é visto como um importante sinal da dissidência contra a chanceler por parte dos deputados de sua própria base, que se mostra cada vez mais descontente com a maneira com que Berlim tem lidado com a crise dos refugiados.

Apesar de agências e organizações de ajuda humanitária elogiarem a Alemanha por permitir a entrada massiva de refugiados em seu território, particularmente no que diz respeito aos que fogem da guerra na Síria, outros grupos atacam o governo, alegando que a abertura do país em tal proporção colocará a economia e a estrutura social Alemanha "sob pressão".

Xenofobia e braços abertos

No último sábado (17), Henriette Reker, candidata eleita à prefeitura da cidade de Colônia, uma das maiores da Alemanha, foi esfaqueada em um mercado público. De acordo com a polícia, o homem que a atacou disse que "os estrangeiros" motivaram a agressão. Mais especificamente, ele teria afirmado que a política de recepção a refugiados defendida por Henriette — a mesma patrocinada por Angela — era a razão de seu ato de xenofobia.

Por outro lado, ainda parece haver muitos braços abertos no país para os refugiados. Lembrando as diversas manifestações de solidariedade testemunhadas nas arquibancadas dos estádios, nas estações e nas ruas alemãs, Carlos Felipe Morgado, brasileiro que vive no país europeu desde 2013, afirma que "há um monte de pessoas na Alemanha com braços, mentes e corações abertos esperando a chegada dos refugiados".

"Sem solidariedade e compreensão, definitivamente não há jeito de encontrar 'soluções políticas'. Esta é a imagem que eu acho que todos nós gostaríamos de ver na Europa. Deixem-nos passar!", escreveu o especialista em migração e relações interculturais europeias, em manifesto nas redes sociais.