Estudantes secundaristas debatem cortes na educação

O 41º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) que teve ínicio nesta quinta (12), em Brasília, debateu, entre outros temas, os cortes na Educação. A mesa discutiu as consequência do ajuste fiscal no ensino nacional e o reflexo da crise na democracia brasileira. Incluso na programação do congresso, a Ubes realizou ainda, o primeiro encontro da juventude negra.

Estudantes unidos contra os cortes na educação - Imprensa Ubes

Na semana em que os secundaristas paulistas mostram força ao ocupar escolas contra o fechamento anunciado pelo governador Geraldo Alckmin, o Congresso da Ubes propõe que os ricos paguem pela crise econômica, não a juventude.

Em São Paulo, após anunciar o governador Geraldo Alckmin anunciar o fechamento de 94 escolas, os secundaristas paulistas realizaram diversas manifestações e nesta semana ocuparam seis instituições. No Paraná, Beto Richa também fechou a porta de colégios.

“Essa escola medieval e atrasada não nos interessa. E temos que mudar e logo, pois essa escola nos transforma em reprodutores da dominação e não em pensadores, não empodera a juventude. A luta em defesa da educação hoje passa por repensar o modelo de educação das nossas escolas”, afirma Patrick Campos, ex-diretor da UNE e membro da Juventude do PT.

No plano federal, desde o anúncio do ajuste fiscal para conter a crise econômica no país, o setor já sofreu o corte de mais de R$ 10 bilhões. Programas com o Fies e o Ciência Sem Fronteiras diminuíram o número de financiamentos e bolsas, respectivamente.

Para a presidenta do PCdoB, deputada federal (PE), Luciana Santos, diante da atual crise, o ajuste econômico é necessário, mas ele deve recair sobre os mais ricos. “Precisamos taxar as grandes fortunas, pois muitas dessas riquezas foram construídas pela sonegação, pela corrupção. Os mais ricos precisam pagar o pato pela crise, não os trabalhadores, não a juventude”, defende a deputada.

Movimento negro

Dentro da programação do Congresso da Ubes, se realizou o primeiro Encontro de Negros e Negras da entidade. O fortalecimento da luta estudantil contra o racismo nos últimos anos levou a Ubes a entrar de forma mais forte nesse debate.

A juventude negra é a parcela da população mais vitimada pelas mazelas que fazem do Brasil um dos países mais desiguais de todo o mundo. Nas periferias, na exclusão de oportunidades e de perspectivas de vida, na dura realidade do preconceito racial de norte a sul, os jovens negros vivem sem saber por quanto tempo. 

“Participei do movimento estudantil há 20 anos. Na época, só havia brancos. Isso está mudando”, declarou o presidente da União dos Negros Pela Igualdade (Unegro) Edson França, um dos participantes da mesa. Ele defendeu a ampliação cada vez maior desses espaços dentro dos grupos de juventude: “Precisamos contar a nossa história, afirmar qual é a cara do povo brasileiro”, completou.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) que participou do debate disse que o movimento de negros dentro da Ubes é fundamental no atual momento de disputa política “Precisamos compreender que a igualdade de direitos é um imperativo nesse momento e estamos combatendo com um Congresso Nacional que leva a frente uma pauta da idade média”, analisou. A deputada afirmou que o país ainda está muito distante de alcançar a igualdade racial e que é fundamental também fazer uma relação entre a opressão pelo racismo e a opressão de gênero. “Os mapas da violência mostram que o número de mulheres negras mortas só aumenta. Não podemos aceitar isso”.

Já a representante do Coletivo Negro Perifa Zumbi Eloá Santos incendiou o debate com a denúncia das contradições e hipocrisias que pavimentam o discurso da igualdade racial e da miscigenação no país. “A estrutura social é definida pela cor da pele. Somos sempre as pessoas que limpam banheiros, os terceirizados, os atendentes de call center, os que são explorados e têm seus direitos retirados. Quando a polícia entra no ônibus para procurar um suspeito, sempre escolhe primeiro o negro. Esse é o bandido do imaginário brasileiro, não o político branco que tem seu helicóptero apreendido com 400 kg de cocaína”, criticou, sob fortes aplausos dos estudantes, em referência ao inexplicado episódio de apreensão do helicóptero do senador Zezé Perrela no ano de 2013.

O debate também passou por temas como a desmilitarização da polícia militar, o combate à redução da maioridade penal e a necessidade de inclusão dos temas da diversidade racial nas escolas de ensino médio e técnico de todo o país.

Confira a programação completa.

As imagens do Congresso estão disponíveis no Flickr