Lama tóxica da Samarco-Vale chega ao Espírito Santo

“Estou suportando os impactos do problema de Mariana. A Vale passa na minha porta de dez em dez minutos com uma composição de minério de ferro. E a gente só fica com o apito do trem e respirando o pó preto do minério de ferro”, afirmou Neto Barros (PCdoB), prefeito de Baixo Guandu, no Espírito Santo, que nesta quarta-feira (18), 11 dias após o rompimento das barragens da Samarco-Vale, enfrentou os prejuízos socioambientais da lama de rejeitos de minério que chegou na sua cidade.

Por Dayane Santos

Divia de minas e Espírito Santo

Os rejeitos atravessavam a Ponte Mauá, no centro de Baixo Guandu na tarde desta quarta, segundo informou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) da cidade. A massa de lama passou pela usina de Aimorés, em Minas Gerais.

“A prefeitura se organizou, gastou o que tinha e o que não tinha para executar um plano de contenção. Gastou dinheiro no escuro para contratar mão de obra”, disse Neto Barros, que para emergencialmente fez obras para captar água do Rio Guandu para garantir o abastecimento para a população.

Na semana passada, o prefeito bloqueou com tratores a estrada de ferro da Vale como forma de protesto. Segundo ele, por conta dessa e de outras ações, o Ministério Público Federal e Estadual acionaram a empresa para assinar um Termo de Ajuste de Conduta, o chamado TAC, em que a mineradora se comprometeu a atuar na recuperação ambiental, na agilização das despesas do município e preparar um plano conjunto de contingência.

“Até agora tudo isso ainda está no plano das expectativas”, denunciou. “A Samarco mente. Mandou dois técnicos pra cá para acompanhar as obras, mas coloca em seu site que está resolvendo o problema de captação de Baixo Guandu e outros localidades, mas na verdade quem está trabalhando e pagando a conta são os municípios. Quem está segurando a onda de dejetos é a administração pública”, rechaçou.

Neto afirma que, assim como ele, o sentimento da população “é de indignação”.

“Como disse o líder indígena da tribo Krenak, nós somos o Rio Doce. Não tem como separar. Matando o rio, mata a gente. Esse é o sentimento. Todos estão unidos para dizer que aqui tem uma resistência que tem voz para combater essa degradação ambiental provocado por essa inversão de valores imposta, sobretudo, pela capital”.