Ato em Brasília repudia ataques a templos de matriz africana

Representantes de religiões de matrizes africanas repudiaram os recentes ataques a terreiros de candomblé em Brasília e nas cidades localizadas no entorno da capital federal. O ato foi realizado neste sábado (28), no Distrito Federal. 

terreiro Axé Ilê Oyá Bagan - Internet

Na madrugada do dia 27, um incêncio destruiu o barracão onde se reúnem os membros do terreiro Axé Oyá Bagan no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá, no Paranoá (DF). Os crimes estão sob a investigação do Ministério Público e Polícia Civil.

O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do MP do DF abriu processo administrativo para apuração do incêndio no terreiro de Ylê Axé Oyá Bagan, dirigido por Mãe Baiana.

Em 2015 aconteceram mais de 10 crimes contra centros religiosos de matrizes africanas no Distrito Federal, de acordo com dados da Coordenação Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir).


Em meio a pedaços de madeira queimada e instrumentos musicais destruídos, os membros do terreiro se reuniram para afirmar que não vão tolerar os atos de vandalismo. Em três meses, este foi o quinto ataque a templos de religiões africanas no Distrito Federal e no entorno.

O ato teve a presença de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF (OAB-DF)  e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Para o ouvidor da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República, Carlos Alberto de Souza, esse tipo de crime não pode ser considerado somente como dano patrimonial, porque, além dos danos nas instalações físicas, todos os objetos ligados à religiosidade são destruídos.


"Nosso país é laico. Não pode interferir nas religiões, mas também não pode embaraçá-las. É importante que o Estado olhe para isso, sobretudo com políticas públicas para a comunidade, porque aqui tem ancestralidade sendo posta, não é somente uma questão de religião. Tem uma cultura que deve ser preservada e não pode ser alvo de violência. É algo assustador e a gente precisa reagir", disse.

Na avaliação da presidenta da Fundação Cultural Palmares, Cida Abreu, o  que está em discussão é a negação de um patrimônio ancestral do Brasil.

"A gente entende que é um movimento recorrente. O Estado brasileiro e o governo têm que tomar uma atitude. Qualquer religião brasileira tem direito de ser resguardada pela segurança nacional, e o terreiro também tem que ser. A gente vem aqui para reafirmar a importância de reconhecer esta religião como outra qualquer", disse a presidenta.

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) registrou 462 casos de intolerância religiosa contra pessoas ligadas à religiões africanas entre 2011 e 2014, por meio do serviço telefônico Disque 100. Para entrar em contato com a central de atendimento e denunciar violações de direitos humanos basta ligar gratuitamente para o número 100.