Diógenes Júnior: Estamos em 2015, mas já chegamos em 1964

Não era paranóia quando há dois anos eu e outros pesquisadores vínhamos dizendo “não estamos em 1964, mas já chegamos a 1962”. Eis que chegamos a 1964 — algumas considerações:

Diógenes Júnior: Estamos em 2015, mas já chegamos em 1964

Há um golpe em curso contra a democracia e Eduardo Cunha — seu artífice principal, não é fraco para sustentar esse golpe como algumas pessoas estão dizendo.

Eduardo Cunha foi enfraquecido por conta das denúncias baseadas em provas irrefutáveis de corrupção apresentadas pelo MP da Suiça, mas sobretudo pelas manifestações dos trabalhadores contra as terceirizações e a mobilização das mulheres contra a PL 5.069/13.

Repito: Eduardo Cunha não é fraco, ele foi enfraquecido, portanto o “Fora Cunha” deve continuar sendo palavra de ordem em toda manifestação em defesa da democracia.

Dizer que “Cunha está fraco” é política de encobrimento do golpe.

Afinal para que serve dizer que ele está fraco? Serve apenas para desmobilizar a militância que de fato pode enfraquecê-lo ainda mais e assim barrar o golpe.

Os “revoltados on line” e seus cúmplices prestam o mesmo serviço que oIBADE e o IPES prestaram aos golpistas em 1964.

A diferença é que o IBAD e o IPES faziam um trabalho velado, e o “revoltados on line” fazem esse trabalho descarado de maneira escancarada.

Não dá mais para tolerar pessoas como esse “marcelo qualquer coisa reis” (e outros) incitando o golpe abertamente, usando desse expediente para ganhar dinheiro dessa malta de retardados que ouvem seus arroubos de egocentrismo. (Ele e outros continuam vendendo camisetas, bonés e afins com dizeres golpistas e pedido dinheiro para seus “seguidores”)

Por muito, muito menos do que fazem canalhas como “marcello reis”, “kim kataguri” ou mesmo Eduardo Cunha há um inocente preso: Rafael Vieira está preso e condenado a cinco anos de cadeia por portar uma garrafa de Pinho Sol.

É bacana e devemos mesmo responder aos golpistas dizendo “Não vai ter golpe” ou mesmo “Lula 2018”, mas não podemos nos esquecer que:

Antes de 2018 vem 2016 e 2017. E não adianta dizer “não vai ter golpe” porque o golpe já foi dado. Devemos agora é barrá-lo!

Se não defendermos a democracia agora não terá Lula 2018, nem ninguém que represente a classe trabalhadora.

A direita assumirá e acabou.

Antes de 2018 vem o agora, quando urge nos mobilizarmos (também) pela internet e sairmos às ruas, defendermos a democracia e a legitimidade do mandato de Dilma.

Tampouco adianta nos fiarmos nas palavras de juristas que dizem que o impeachment não tem fundamento jurídico e assim esmorecermos e confiarmos que “não haverá golpe”.

Não tem fundamento eles arrumam! A prisão de José Genoíno e de Zé Dirceu também não tinha, mesmo assim ambos foram presos, aliás José Dirceu ainda está.

Quem se esqueceu da frase dita pela Ministra Rosa Weber durante o julgamento da AP 470:

“ Não tenho prova cabal contra Dirceu — mas voucondená-lo porque a literatura jurídica me permite”
Da mesma maneira a prisão do senador Delcídio do Amaral foi ilegal e dizer que ele era ex-tucano não dimuniu a ilegalidade dessa prisão.

A direita joga com as regras do jogo que eles mesmos fazem.
Nós seguimos as regras deles. Eles não seguem regra alguma, por isso são golpistas e não o contrário.

Sobre as micaretas fascistas

Os golpistas tentarão organizar manifestações onde pessoas confusas e de extrema direita pedirão o impeachment de Dilma.

Sobre essas pseudo manifestações — que eu chamo de micaretas fascistas faço algumas considerações:

—Somos todos brasileiros e o Hino Nacional é um símbolo de nossa pátria, mas quem o canta nesse tipo de manifestação geralmente o faz porque não tem absolutamente nada para dizer. O mesmo vale para rezas.

— A bandeira da “luta contra a corrupção” sempre foi a ponta de lança de todos os golpes contra a democracia, no Brasil e pelo mundo.

—Nós sabemos que o maior problema do Brasil não é a corupção, mas sim a desigualdade social.

— Manifestantes que vociferam gritos de “viva a PM” em um país onde essa força policial mata mais do que exércitos de países em guerra estão claramente afrontando os familiares daqueles que perderam entes queridos vitimados por essa força repressiva. Na verdade essas pessoas são fascistas, com forte fetiche por armas e uniformes.

— A questão da corrupção na Petrobras é apenas uma isca para que pessoas politicamente superficiais, desorientadas e confusas mordam o anzol da luta em favor desse golpe contra Dilma. Sempre houve corrupção, até porque corrupção é parte do capitalismo e está intrinsecamente ligada ao gênero humano.

— Digo mais: jamais se combateu a corrupção de maneira tão enérgica como combate-se agora, nesse governo. Falem o que quiserem, mas Dilma não é nem jamais foi conivente com corrupção.

Considerações finais

Então amigos gostaria de concluir essas considerações dizendo que podemos seguir os seguintes passos para juntos defendermos a democracia que se encontra ameaçada:

1 — Passar com clareza para familiares, amigos e a população em geral, através das redes sociais (e demais meios de comunicação dos quais dispusermos) o que representa o golpe que está em curso.

2 — Identificar os golpistas e denunciar suas estratégias.

3 — Unir , motivar e mobilizar o povo que vislumbra suas conquistas ameaçadas.

4 — Ocupar os espaços democráticos para a luta ou seja, as ruas e a internet.

Creio que essas são as boas armas que temos às mãos lutar e assim barrarmos o golpe.
Pois bem amigos, estamos em 2015!

Que a História não se repita como a tragédia de 1964, e que possamos expor toda essa farsa e assim, vencermos esses golpitas.

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”

Karl Marx

*Diógenes Júnior é estudante de Ciências Sociais, pesquisador independente, militante do PCdoB, ativista dos Direitos Humanos e Jornalista Livre.