Entidades afirmam que impeachment vai desmontar ações afirmativas 

Dirigentes de entidades do movimento negro como União de Negros pela Igualdade (Unegro) e Agentes de Pastoral Negros (APNs) concordam que o processo de impeachment coloca em risco a democracia e significa um retrocesso às conquistas do movimento. 

Por Railídia Carvalho

Cota para negros na universidade - SEEB/Ba

Nesta segunda (14), às 19h, integrantes dessas entidades e mais o Movimento Negro Unificado (MNU) e a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) se reúnem, na sede do sindicato dos Jornalistas, em São Paulo, para traçar estratégias de combate ao impeachment.

O presidente nacional da Unegro, Edson França, disse que o encontro vai preparar a mobilização para o ato nacional do dia 16 de dezembro e também para os desdobramentos do processo em curso na Câmara dos Deputados.

“Em momentos de ditadura nós perdemos o direito de lutar contra o racismo”, ressaltou Edson. Ele lembrou que há muito que se avançar nas políticas em relação ao genocídio da juventude negra e na titulação dos quilombolas.

“Mas o que está em jogo aqui não é o que fez o que não fez e sim a ilegitimidade do processo de impeachment”, afirmou Edson. Segundo ele, o movimento tem um olhar positivo para conquistas fundamentais como as cotas no serviço público e o ingresso inédito de um grande número de negros e negras nas universidades.

Na opinião de Carlos Alberto Silva Junior, ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, da Presidência da República, as políticas públicas dos últimos 12 anos contribuíram para reduzir a desigualdade abissal entre negros e brancos.

Ele citou o Prouni, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida e as cotas no serviço público. “Entraram 150 mil estudantes negros e negras nas universidades, 600 negros e negras ingressaram no serviço público federal e 38 milhões de brasileiros saíram da linha da miséria”, enumerou Carlos.

“Os pobres em sua maioria formada por negros tiveram redução na condição de miserabilidade”, completou Carlos. De acordo com ele o processo de impeachment significa um retrocesso. “Será vencido com os instrumentos das instituições públicas”, afirmou.

A presidenta estadual da Unegro, Rosa Anacleto, disse que todas as vezes que a democracia é cerceada os direitos sociais também são. “O que se alega para o impedimento da presidenta Dilma é exatamente o olhar para os programas sociais quando ela escolheu colocar os recursos nos programas sociais Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família”, explicou a dirigente.

“Quando em outros governos o dinheiro público foi direcionado para o Proer, programa de ajuda aos bancos falidos, isso não causou a polêmica que está instalada hoje no Brasil”, comparou Rosa.

Nuno Coelho, da ANPs, argumentou que o processo de impeachment significa o rompimento com uma política propositiva de combate ao racismo e de um diálogo concreto estabelecido entre o governo e o movimento negro.

“Vamos fazer a defesa da democracia para consolidar as ações de promoção da igualdade racial e implantar outras que estão em curso. As urnas confirmaram que as políticas que aí estão devem continuar e avançar. O prosseguimento do impeachment significa a desconstrução das ações afirmativas concretizadas”, explicou Nuno.