Em Goiás, estudantes ocupam 19 escolas contra privatização

Estudantes de Goiás ocuparam nesta quarta-feira (16) ao menos sete escolas da rede pública de ensino do estado. Eles são contra reformas anunciadas pelo governo estadual, que pretende transferir a administração das instituições de ensino estaduais para organizações sociais. Pelo menos 19 escolas estão ocupadas na capital, Goiânia, e no interior, segundo a organização do movimento.

Ocupação de escolas em Goiás - Zuhair Mohamad

As ocupações ocorrem em 10 escolas de Goiânia; duas de Aparecida de Goiânia; seis em Anápolis e uma em Cidade de Goiás. Inspirados nas ocupações ocorridas em São Paulo, as manifestações dos estudantes de Goiás começaram há uma semana, após o governador Marconi Perillo autorizar a formalização da parceria que transfere a gestão das escolas da rede estadual para organizações sociais, que são entidades privadas filantrópicas.

A intenção é que as entidades comecem a atuar no primeiro semestre do próximo ano. Segundo o governo, além de cuidar da administração e da infraestrutura, as organizações poderão contratar tanto professores quanto funcionários administrativos.

Os estudantes são contra a decisão do governo estadual e consideram a medida negativa, pois foi uma decisão tomada sem diálogo com as escolas. Para os estudantes, trata-se de uma privatização da educação pública.

“O estado está simplesmente assinando um atentado de incompetência na gestão da educação. Para nós, é uma entrega das escolas. O estado sucateou e, agora, coloca uma organização privada, que visa ao lucro ou a outro benefício, para gerenciar”, disse o diretor da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (Uges) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Gabriel.
Ex aluna do JCA pintando o prédio da sua escola que foi fechada sem nenhuma justificativa plausível


Segundo Tatico, os estudantes só vão deixar os colégios quando o governo desistir da mudança na administração das escolas. A Secretaria de Educação informou que as escolas estão em período de prova e que os alunos fazem as avaliações em unidades próximas às ocupadas, sem prejudicar o fim do ano letivo.

Reitegração negada

Ontem, a Justiça de Goiás negou o pedido do governo do estado de reintegração de posse de escolas ocupadas na capital.

Para o juiz Eduardo Tavares dos Reis, o ato é um protesto dos estudantes e professores e não tem o objetivo de privar o estado da propriedade. O fato de adolescentes e crianças estarem entre os manifestantes também foi levado em conta na decisão. O juiz disse que a ação policial poderia levar a danos físicos e psicológicos aos estudantes.

Contra a mudança

Em nota divulgada hoje, a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG) se posicionou contra o repasse da administração das escolas para as organizações sociais por entender que não é desta forma que o “estado alcançará o objetivo de construir uma escola estadual verdadeiramente pública, laica, gratuita e de qualidade para todos” e que a gestão entregue a organizações sociais “constitui um processo de terceirização da oferta da educação pública”.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás também é contra a mudança.

Em entrevista ao jornal O Popular, a estudante Bárbara Ketrin, que integra a ocupação do Colégio Cecília Meirelles, em Aparecida de Goiânia, conta que a Polícia Militar tenta intimidar a ação dos estudantes. “A PM além de estar presente na porta das escolas, impede a entrada de estudantes”, disse. Depois de cercar o prédio por mais de doze horas, a polícia agrediu dois alunos menores que foram recolher doações.

Em contato com a Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB, a Ubes foi informada que um grupo de advogados solidários acompanha as ocupações, e que os policiais agressores já foram identificados e responderão pela violência cometida. “Como fizemos desde o início, continuaremos acompanhando e prestando auxílio aos estudantes”, disse o presidente da Comissão, André Dias.

Publicações da página Secundaristas em luta, que acompanha as ocupações, alegam que a Seduce determinou o corte de energia como estratégia para enfraquecer o movimento, “Além da covardia, a ação é uma quebra do acordo feito com a polícia diante do Conselho Tutelar, OAB e advogados de que a polícia não iria usar de violência contra os estudantes”, diz em trecho.

“A Ubes declara seu apoio às ocupações das escolas de Goiás, pois medidas em formato de decreto não visam diálogo, elas são imposições autoritárias que não correspondem à construção da Nova Escola que queremos. A decisão dos estudantes, pais e professores são essenciais para construção da gestão democrática, ocuparemos, resistiremos e não abriremos mão da educação pública e de qualidade”, declara a presidenta Camila Lanes.