Em documento, deputados do PT defendem mudanças tributárias

A justiça tributária pode ser a principal ferramenta do governo para retomar o desenvolvimento econômico com justiça social, ampliar as fontes públicas de financiamento e gerar empregos no Brasil. É o que defende o deputado Vicente Cândido (PT-SP). Ele faz parte de um grupo de deputados federais da bancada do Partido dos Trabalhadores que apresentou, na última semana, documento com 14 propostas econômicas ao governo federal.

Vicente Cândido

Entre as propostas apresentadas, o deputado destaca a “alteração na tributação do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)”. Se aprovada a iniciativa, será criada uma nova tabela para o imposto de renda, ampliando a faixa de isenção e tributando mais quem possui alto rendimento.

Atualmente, estão isentos os rendimentos mensais de até R$ 1,9 mil. A proposta do PT amplia esse limite para quase R$ 3,4 mil.

O deputado Vicente Cândido está otimista quanto ao encaminhamento do texto e conta que houve receptividade da equipe do governo. Ele também avalia positivamente a discussão realizada com o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, e espera se reunir em breve com a presidenta Dilma Rousseff para tratar dessa agenda.

Além da base aliada, os deputados também pretendem discutir as propostas com setores como entidades sindicais, empresariais e pesquisadores.

Apresentado ao governo federal com o título “Agenda para a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social”, o documento está dividido em duas partes. A primeira trata essencialmente de alterações na estrutura tributária vigente. A segunda contém quatro medidas econômicas diversas: venda de ativos da União, regularização de recursos de residentes depositados no exterior, alteração na legislação que normatiza acordo de leniência e captação de recursos na China para o financiamento de empresas brasileiras.

Para Vicente Cândido, é inovadora também a tributação dos juros sobre capital próprio e a volta da utilização da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) como fonte de arrecadação.

Um dos projetos do documento, o que trata sobre tributação de lucros e dividendos no Brasil e das remessas para o exterior, é de autoria de Cândido, propondo uma alteração do artigo 10 da Lei 9.249, de 1995. Na avaliação do parlamentar, o sistema vigente é injusto e desigual ao contribuinte, pois, enquanto os lucros e dividendos possuem isenção, a renda do trabalho é taxada a alíquotas de até 27,5%.

Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), os países desenvolvidos ou que conseguiram superar desigualdades sociais instituíram um sistema justo e eficiente de imposto sobre heranças, e este pode ser um caminho para o Brasil promover o desenvolvimento econômico com justiça social.

O tema também integra o documento com propostas para a economia. “O impacto para os trabalhadores é positivo. Esses recursos devem ser destinados ao financiamento de serviços públicos, educação, moradia, segurança pública, transporte. O trabalhador só tem a ganhar, e não será ele a pagar. Quem vai pagar é quem tem mais”, afirma Teixeira.

O deputado é defensor de mudanças no Sistema de Imposto sobre Heranças e Doações (ITCMD) vigente no país. Esta é uma das 14 propostas do documento. Em 28 de maio de 2015, ele apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional (nº 60/2015) para alterar a regulamentação atual e garantir alíquotas mínimas fixadas pelo Senado, progressividade baseada no valor do patrimônio, uniformidade de isenções e não incidências e mecanismos para evitar subtração da base do tributo.

“O que acontece, no Brasil, é que o imposto sobre herança tem uma taxa muito pequena, insignificante, e não tem uma alíquota progressiva. Tem uma alíquota igual para todo mundo, não distingue o rico do pobre. Isso é injusto do ponto de vista tributário, porque você precisa ter uma tributação progressiva diferenciada. Quem é mais rico paga mais, quem é mais pobre paga menos. Estamos buscando unificar esta alíquota em plano nacional. A partir daí você terá um imposto razoável para financiar o país”, explica o deputado.

A arrecadação deste imposto pertence aos estados e é fixada por Resolução do Senado Federal (a alíquota máxima é de 8% e a alíquota efetiva média é de 3,8%). No Chile, a alíquota média é de 13% para heranças e 18% para doações; na França, 32,5% e 25,0%, respectivamente; na Inglaterra, 40,0% e 30,0%. No Japão, a alíquota média para heranças e doações é de 30,0% e nos Estados Unidos, 29,0%.

Se as mudanças propostas acontecerem, esse imposto poderia ser compartilhado entre estados e municípios, sendo que os municípios ficariam com 25% da arrecadação.

Paulo Teixeira acredita que, entre as 14 propostas, as prioridades devem ser alterações no imposto sobre heranças e doações e também nos impostos para pessoa física. “Justiça tributária: você tem que tributar os que mais podem, os que mais têm. E desonerar os que menos têm. São medidas que dão clareza sobre o que é tributação. Do nosso ponto de vista, o que importa agora é taxar o andar de cima”, afirmou.

Assinam também o documento os deputados Sibá Machado (PT-AC), Afonso Florence (PT-BA), Enio Verri (PT-PR) e José Mentor (PT-SP). 

Confira a íntegra do documento aqui.