Wendell Lira do Brasil e o gol mais bonito do ano

O clima era de entrega de Oscar, o tapete vermelho, astros e estrelas, fotógrafos se acotovelando pelo melhor click e fãs ávidos por uma assinatura de seus ídolos. Mas os premiados não seriam filmes, nem atores e nem atrizes. Seriam os artistas da bola. A cerimônia era a 25° Bola de Ouro da Fifa, realizada nessa segunda-feira (11) em Zurique, na Suíça.

Por Thiago Cassis*, para o Vermelho

Wendell Lira - Wikicommons

Na premiação para melhor jogador de futebol do mundo, no futebol masculino, nenhuma surpresa: o argentino Messi, do Barcelona, faturou mais uma vez o prêmio. Pela quinta vez que o argentino foi escolhido o melhor do planeta com a bola nos pés. No futebol feminino a norte-americana Carli Lloyd garantiu o título de maior craque.

Ainda sem novidades, os melhores treinadores foram, no futebol masculino, Luis Henrique, também do Barcelona e no feminino, Jill Ellis, da seleção norte-americana. Os melhores treinadores fizeram os maiores craques, ou ao contrário? Só com uma análise mais apurada conseguiríamos responder, fato é que o Barcelona no futebol masculino e a seleção Norte-Americana de futebol feminino foram os grandes premiados na noite.

Mas ainda tinha outro prêmio para ser entregue na fria noite suíça. Quem levaria o gol mais bonito do ano, o cobiçado e democrático (é o único em que a votação é aberta ao público) prêmio Puskas? Concorriam Messi, o melhor do mundo, Florenzi, da Roma e Wendell Lira, do, do… do Goianésia!


Wendell na premiação da Fifa nesta segunda-feira (11) 


Wendell Lira, atacante brasileiro que começou a carreira com algum destaque na equipe do Goiás, e depois de quase ir para o Milan, sofreu com uma série de contusões e acabou rodando o país, além de ajudar sua mãe na lanchonete da família e quase ter abandonado a carreira. Atlético de Sorocaba, Fortaleza, Tombense e claro, o Goianésia, foram alguns dos clubes pelos quais Wendell passou de 2007 pra cá.

Foi numa partida do Campeonato Goiano de 2015, entre Goianésia e Atlético-GO, que Wendell fez o golaço (assista abaixo). Debaixo de muita chuva e com poucos torcedores nas arquibancadas para testemunhar o feito. Uma gol de placa.

Com uma população que cabe algumas vezes a Itália, a Espanha e até a Argentina, e com uma frequência descomunal nas redes sociais, não foi difícil de mobilizar muitos brasileiros para que votassem no nosso atleta, e fazer com que, ao menos o prêmio de gol mais bonito, viesse para nossa terra. Era nossa única chance, porque se Neymar ganha o troféu de melhor jogador, e ficou entre os três primeiros, o artefato repousaria em uma estante em algum lugar da Catalunha. Wendell Lira venceu, “Wendell Lira do Brasil”.

E para nós brasileiros que amamos futebol, que crescemos arriscando nossos chutes em toda espécie de bola (muitas vezes nem redonda como manda o figurino), não dispensamos nem jogo de primeira fase da Copa de S.P. de Juniores na TV e se estiver passando série B do estadual assistimos também, qual foi a surpresa de um gol como esse em uma partida do Campeonato Goiano? Nenhuma.

Nossos gramados são forrados de Wendell's. Craques humildes, gente muito simples e batalhadora que apostou tudo em correr atrás da bola e até conseguiram se profissionalizar. Mas no caminho não toparam com um empresário e nem com uma marca de artigos esportivos que alçasse o jovem talento para algum clube desses que constam nos jogos de video-game (referência usada pelo próprio Wendell em seu discurso no evento da Fifa). Com isso levam sua carreira adiante aos trancos e barrancos, de clube em clube passam de sua adolescência até os 30 e poucos, ou até quando as pernas aguentarem, tentando bicicletas e voleios por nossos gramados, que muitas vezes nem muita grama tem na verdade.

O que me pergunto é, o que fazer com nossos milhares de Wendell's? Como aproveitar melhor as centenas de jogadores que surgem todo ano de Norte a Sul do país? Com estaduais cada vez mais achatados e sufocados, 20 times da Série A, e mais alguns tentando sobreviver nas séries B, C e D, darão conta de traduzir a diversidade de cores e clubes do nosso futebol?

Só o futuro nos dirá. Certeza mesmo temos de duas coisas: o gol de Wendell Lira (que disputará o campeonato goiano de 2016 pelo Vila Nova) foi lindo e mereceu ganhar e que muitos outros golaços acontecerão já no fim desse mês, quando os gramados de todos país serão ocupados pelos campeonatos regionais, com ou sem prêmio da Fifa.

Assista ao gol de Wendell: