Fernando Brito: O incrível interrogatório sem perguntas de Cerveró
Cerveró – Então eu fui indicado para a diretoria da BR Distribuidora por reconhecimento do presidente pela ajuda que prestei para resolver aquele problema do empréstimo da Schahin.
Procurador – Sim, e como é que o senhor soube do reconhecimento do presidente Lula a isso?
Cerveró – …. (silêncio)
Procurador – Ele disse isso ao senhor, pessoalmente ou por telefone?
Cerveró – Não, senhor…
Procurador – E como é que o senhor soube disso?
Cerveró – …. (silêncio)
Publicado 13/01/2016 12:18
Teria sido assim o interrogatório do senhor Nestor Cerveró que lhe rendeu redução da pena?
Deve ter sido, porque a “ligação” de Lula à sua nomeação e a razão dela ter sido a “gratidão” presidencial pela operação ocupa exatas duas linhas e meia no depoimento premiado de Cerveró, que, há coisa de uma hora, foi liberado pelo “vazador” para ser publicado. Sim, porque duvido que um repórter experiente como o do Estadão fosse “deixar para depois” de ser furado pela Folha que havia uma menção a Lula, justo na primeira página do documento.
Mas vamos ao que diz o papelucho, cuja guarda estava a cargo dos procuradores Fábio Mangrinelli Coimbra e Rodrigo Telles de Souza.
Inacreditável. Aliás, na página seis, Cerveró diz que Delcídio “também era considerado responsável pela indicação do declarante para a diretoria da BR DISTRIBUIDORA”. Era considerado ou era? Foi Delcídio que falou a Cerveró da suposta gratidão de Lula?
A única operação concreta a que Nestor Cerveró se refere é um suposto empréstimo do Banco do Brasil ao usineiro João Lyra, em 2010, por influência de Fernando Collor e que teria irritado Renan Calheiros. Há, porém, um “probleminha”: informa oficialmente o Banco do Brasil que o empréstimo foi recusado e não saiu…
Qualquer delegado novato de DP no pé do morro aqui no Rio interroga melhor. Até porque sabe que um depoimento destes, sem materialidade e sem concatenação é lixo no tribunal.
Mas, no tribunal em questão, parece “não vir ao caso” e o depoimento é totalmente adequado ao que se busca, de fato: acusar Lula assim na base do “ouvi dizer”.
Não precisa nem dizer de quem ouviu dizer.
PS. Detalhe intrigante: Detalhe, a delação não é o mesma que estava nas mãos de André Esteves e Delcídio do Amaral por uma simples razão: ambos foram presos no dia 25 de novembro e o depoimento foi prestado dia 7 de dezembro. É uma nova versão, certamente revista e talvez ampliada. Assim se conduz uma montagem.