Lina Bo Bardi: O retorno às origens para desburocratizar a arte

Depois de 20 anos o Museu de Arte de São Paulo (Masp) volta às suas origens e expõe seu acervo no formato idealizado por Lina Bo Bardi na década de 60. Os cavaletes de cristal ampliam e desburocratizam o acesso à arte, permitem que o público circule livremente sem se preocupar com uma ordem imposta. São 119 obras provenientes de diversas coleções do museu e abrangem um arco temporal que vai do século 4 a.C. até 2008. A última exposição neste formato no museu foi em 1996.

Por Mariana Serafini

Exposição Lina Bo Bardi no Masp - Mariana Serafini

O texto de apresentação da exposição esclarece que a volta dos cavaletes não é um gesto “nostálgico ou fetichista” em relação ao ícone, mas pode ser compreendido como uma “revisão do programa museológico de Lina Bo Bardi”.

A percepção do público diante das obras expostas nos cavaletes transparentes é totalmente diferente de exposições onde os quadros ficam anexados à parede. É como se o formato fosse também uma obra de arte. A fluidez leva as pessoas a circularem pelo espaço sem se preocupar com regras, marcas temporais, conceitos artísticos ou formatos pré-determinados.

A legenda explicativa das obras fica no verso de cada quadro, de forma que, para ler, o expectador precisa dar a volta, isso o leva a ler apenas se quiser, permitindo que o impacto da tinta sobre a tela seja suficiente para encher os olhos. “Possibilita um primeiro encontro livre de contextualizações da história da arte. Nesse sentido, a experiência do museu torna-se mais humanizada, plural e democrática”, diz o texto de apresentação da exposição.

Outro público que parece mais interessado com este formato são as crianças. Os pequenos correm de uma obra a outra como se fossem atraídos pela força da imagem. Param e olham fundo nos olhos do retrato, ou tentam se comparar à obra tentando imitar algum gesto. Aproveitam os cavaletes para “medir” a altura de si mesmos. A sensação que se tem é de que obras anexadas à parede são engessadas, enquanto a transparência dos cavaletes permite uma receptividade livre.

Diferente da configuração original, idealizada por Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, onde as obras eram organizadas por escolas e regiões, agora a disposição é rigorosamente cronológica. Não a ordem cronológica da história da arte, com suas escolas, e movimentos, apenas uma linha temporal que não necessariamente obriga o público a seguir este raciocínio. “A transparência espacial da planta livre e dos cavaletes convida os visitantes a construir seus próprios caminhos, permitindo justaposições inesperadas e diálogos entre arte asiática, africana, brasileira e europeia”, diz o texto.

O museu afirma, porém que a exposição continuará aberta a “frequentes mudanças, ajustes e modificações”, que já devem ser feitas no início deste ano. A ideia é, desta forma, impedir a “ossificação” do espaço.

A exposição conta com obras de Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Claude Monet, Diego Rivera, Candido Portinari, entre outras dezenas de nomes de diferentes períodos, escolas e países. Pode ser visitada de terça-feira a domingo das 10 horas às 18 horas e quintas-feiras até às 20 horas.