São Paulo e o Novo Teatro

Há um outro diálogo entre ator e espectador, dramaturgo e encenador, espaço e tempo, acontecendo no teatro brasileiro.

Por Luiz Henrique Dias*, para o Vermelho

Teatro Contemporâneo - Guilherme Cardim/Teatro do Excluído

Em diversas partes do país, surgem pequenas salas, novos teatros, que entram em contraposição direta com o tradicional grande espetáculo e levam os excluídos para a cena.

Falo aqui não do engajamento, de outras épocas, mas dos excluídos dramáticos, personagens outrora esquecidos por sua pouca utilidade social, mas com grande atividade subjetiva. Personagens dotados de distúrbios múltiplos e secretos, mais interessantes à psicanálise que ao entretenimento.

Há pouco menos de meio séculos – ou há meio século – a dramaturgia descobriu a capacidade desses indivíduos fictícios e reais em produzir grandes experiências e, assim, belas peças. Eis que surge, na França e na Inglaterra o que vou chamar aqui de teatro contemporâneo e vou classificar como aquele em que as grandes histórias, com grandes heróis, abre espaço para indivíduos cotidianos em cenas de alto teor de palavra e tensão subjetiva.

Essas peças exigem menores palcos, menores plateias, menores teatros, menores padrões de luminosidade em cena e maiores interações e, portanto, maior proximidade entre o ator e espectador. Este passou a ser um ouvinte e, aquele, falante.

Em São Paulo, muitas companhias experimentam parcialmente ou integralmente essas técnicas. Há pequenas salas espalhadas produzindo e apresentando esses novos conceitos. Surgem novos autores e as releituras de clássicos vão abrindo espaço para produtos autorais e mais singulares.
Vivemos outros tempos.

A cidade despontou, há alguns anos, como um dos epicentros do teatro contemporâneo – não contemporâneo temporal, mas conceitual – e, ao lado de Curitiba, ditou os passos de uma mudança permanente na forma de se trabalhar com a cena no país. Outros espaços, em Belo Horizonte, por exemplo, têm apresentado propostas similares ou ainda mais elaboradas.

Mas ainda é preciso entender melhor todo esse processo e esse entendimento passa por um tripé: mais produção, mais registro e mais fomento.

Os grupos devem produzir mais, dialogar mais com essas novas formas e tatear ainda mais as novas dramaturgias.

As experiências devem ser registradas, em vídeo, em foto, em artigos, em trabalhos acadêmicos – ou não – voltados ao estudo desse longo processo de recriação do teatro.

Novos editais precisam incluir a experimentação e garantir a sobrevivência dos grupos de enveredaram pelos becos do teatro contemporâneo.

Dessa forma, com produção, registro e fomento, saberemos enfim o resultado de todo esse rico processo que passa o teatro no mundo e no Brasil.