Dilma: Brasil não parou nem vai parar
O Brasil passa por um período de “transição econômica” e “dificuldades temporárias”, mas não está paralisado. Esta é a avaliação feita pela presidenta Dilma Rousseff em entrevista, neste domingo (24), ao jornal El Comercio, do Equador. Ela viaja ao país nesta terça (26), para participar de cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Publicado 25/01/2016 16:22
“O Brasil está passando por um momento de transição econômica. Estamos fazendo um grande esforço para nos adaptarmos à nova realidade global, que está tomando forma com o fim do superciclo das commodities”, disse Dilma ao jornal.
Segundo a presidenta, garantir a estabilidade e o crescimento econômico é essencial para o Brasil. “Para isso, estamos fazendo um ajuste fiscal severo. (…) Essa recuperação do equilíbrio fiscal permitirá a retomada da atividade econômica em bases mais sólidas e sustentáveis. Simultaneamente a esse esforço fiscal, lançamos programas para fazer avançar o investimento, particularmente em conjunto com o setor privado”, afirmou.
De acordo com Dilma, isso tudo tem sido feito sem descuidar dos direitos trabalhistas e sociais e tendo em vista a preservação dos ganhos dos últimos 13 anos. “Confio em que a economia brasileira vai superar esses desafios e emergir ainda mais forte e mais competitiva”, declarou.
“Não vamos retroceder em políticas exitosas de inclusão social e não vamos nos descuidar daqueles que mais necessitam. Mesmo em um contexto de ajuste, mantivemos os programas sociais e os principais investimentos”, defendeu.
A presidenta destacou que, nos últimos anos, enquanto o mundo enfrentou graves problemas econômicos e sociais, o Brasil foi capaz de “sustentar o crescimento com baixa inflação e com os mais baixos níveis de desemprego de sua história”.
“Em que pesem as dificuldades temporárias, o Brasil não parou nem vai parar. Não retrocederemos na inclusão social ou nos investimentos sociais”, garantiu.
Sem base jurídica
Na entrevista, Dilma voltou a dizer que não há respaldo jurídico para o pedido de abertura de processo de impeachment contra ela, e que a melhor saída quando há “divergência de ideias” é o debate. “Não é aceitável, em uma sociedade democrática e participativa, tirar um presidente apenas por divergência política, sem nenhum respaldo jurídico.”
A presidenta também destacou que é “implacável contra a corrupção” desde seu primeiro mandato, e garantiu que em seu governo a Polícia Federal e o Ministério Público têm total autonomia de investigação.
“Não transigirei no combate a qualquer tipo de ação criminosa cometida por qualquer pessoa. O povo brasileiro é honesto e trabalhador e jamais aceitarei que pequenos grupos tentem se beneficiar do dinheiro público em proveito próprio”, afirmou.
Relações internacionais
Segundo a presidenta, é em momentos de maiores dificuldades que blocos como a Celac se tornam mais importantes. Ela defendeu a relevância de ter posições comuns e de buscar em conjunto soluções para os problemas.
Indagada sobre mudanças no rumo político em países da região, a presidenta afirmou ver com “naturalidade a alternância de poder”. Ela também minimizou eventuais impactos nas relações do Brasil com países como a Argentina e Venezuela, diante da eleição de Mauricio Macri e da vitória da oposição nas eleições legislativas, respectivamente.
“As relações do Brasil com seus vizinhos sul-americanos são, antes de tudo, relações entre Estados, fundamentadas em interesses compartilhados e projetos muito concretos de integração.”
Dilma foi incisiva ao responder à pergunta sobre a postura brasileira diante da crise política e econômica na Venezuela. “Tivemos de tudo, menos silêncio por parte do Brasil em relação à Venezuela. Acompanhamos com muita atenção os acontecimentos no nosso vizinho do norte, país irmão com o qual mantemos excelentes e sólidas relações. E estamos muito presentes e atuantes, de forma individual ou em conjunto com os demais membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas)”, argumentou a presidenta, citando os “princípios básicos de não ingerência e autodeterminação dos povos”.
Na entrevista, Dilma reconheceu que a Venezuela passa por momentos difíceis. “Com a instalação da nova Assembleia Nacional venezuelana temos a expectativa de que todos os atores políticos mantenham e aperfeiçoem o diálogo e a boa convivência, que devem ser a marca por excelência das sociedades democráticas”, afirmou.
“Não há lugar na América do Sul do século 21 para soluções políticas à margem da institucionalidade e do mais absoluto respeito à democracia e ao Estado de Direito”, disse.