“É tempo de entender que não tem mais impeachment”, diz Delfim

Para o ex-ministro Antonio Delfim Netto, o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é página virada: “O presidencialismo não funciona sem presidente. E acho que é tempo de a gente entender, não tem mais impeachment”. Em entrevista ao Valor Econômico desta segunda (25), ele afirma que a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido de que cabe ao Senado a decisão final sobre o impeachment eliminou a possibilidade de o afastamento avançar.

Delfim Netto - Hélvio Romero/Estadão

Diante do atual cenário, ele defende que a presidenta Dilma Rousseff deve pressionar o Congresso a aprovar as medidas necessárias para o país. “Ou a presidenta assume a responsabilidade e vai, no dia 2 de fevereiro, ao Congresso Nacional com os projetos de reforma constitucional e infraconstitucional, ou será o caos. Ela deve ir ao Congresso e dizer: ‘Agora vamos ver quem é o responsável, porque eu não acredito que vocês não vão aprovar e decidi fazer um teste. Se os senhores quiserem, não aprovem’. E vai para a rua contar para o povo o que tem de ser feito. Ela tem de colocar o Congresso nas cordas. O presidencialismo não funciona sem presidente”, disse.

O economista propõe que, além de apresentar projetos de reformas ao Congresso, o governo vá às ruas defendê-las. “Em algum momento temos que saber quem é o responsável pelo Brasil. São os dois [Executivo ou Legislativo]. Mas como podemos fazer um experimento fundamental? Apresentando as reformas para o Congresso e vamos ver se ele tem coragem de dizer não. Mas não é apresentar passivamente, é ir para a rua, enfrentar o panelaço que tiver que enfrentar, mas explicar para a população: ‘Estou fazendo isso para salvar o seu neto’”, afirmou.

Delfim participou recentemente de um almoço com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Poucos dias antes, esteve também com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.

De acordo com ele, o Brasil sofre de uma completa ausência de perspectiva. “Só pode devolver perspectiva para o Brasil quem está no governo, mas a oposição fica esperando o ‘impeachment da Dilma’. Essa gente que vai para a rua não tem força para tirar a Dilma. E se ela não assumir seu protagonismo, não levar a responsabilidade para o Congresso e dizer quem é o responsável, ‘sou eu ou os senhores’, não tem solução. Vai ser uma tragédia”, cobrou, na entrevista.