União Europeia: o fim do bloco ou apenas tropeços? 

A direção da União Europeia (UE) reconheceu no começo de janeiro que enfrenta um ano desafiante e o possível "princípio do fim" da aliança comunitária.

Credores da troika - Picture-Alliance/DPA

O ano de 2016 veio carregado de assuntos pendentes para o bloco e a atitude contestatória de alguns de seus membros fortaleceu a ideia de que alguma coisa não está bem entre os 28 integrantes.

Ainda que Bruxelas se negue a aceitar uma morte anunciada, existe sim a preocupação com a gravidade de muitas das problemáticas existentes e a incompatibilidade das intenções de alguns Estados com os princípios defendidos durante décadas.

O ano que começa se apresenta difícil e cheio de problemas a resolver, além de certa perda de confiança nas instituições do bloco.

Para o presidente da Comissão Europeia (CE), Jean Claude Juncker, a UE se encontra perante "uma conjunção de crises múltiplas, complexas, multifatoriais, provenientes de fora e de dentro".

Entre os assuntos mais preocupantes cita a atual situação migratória e as reformas exigidas pelo Reino Unido para garantir sua permanência no bloco.

Não obstante, confia que serão encontradas soluções eficazes a ambas problemáticas, visão um tanto otimista se levada em conta a falta de consenso entre os membros, apesar dos diversos debates realizados nos últimos meses.

Ao refletir sobre o tema, o analista britânico John Humphrys garante que "os princípios fundamentais dessa comunidade política correm hoje mais perigo que nunca".

Como Humphrys, vários estudiosos e políticos se propõem a possibilidade de que a UE não seja capaz de se sobrepor a esses obstáculos e colapse.

A maioria deles não se atreve a adiantar de maneira categórica o que poderia acontecer no futuro, mas adverte sobre os perigos de más decisões.

O chamado Velho Continente se encontra hoje perante a pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), fenômeno considerado uma consequência das ações de instabilidade de grandes potências em países do Oriente Médio.

Mais de um milhão de pessoas chegaram a Europa em 2015 depois de cruzar o mar Mediterrâneo em embarcações frágeis e outras 3.600 morreram na tentativa.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, nas primeiras duas semanas de 2016, ao redor de 23.670 pessoas conseguiram superar essa perigosa travessia e a cifra de mortos já passa de cinquenta.

Apesar de muitos encontros e debates sobre o assunto, os 28 países não se põem de acordo em relação a uma resposta comum e alguns como Áustria, Alemanha, Suécia e Dinamarca preferem fortalecer a segurança em suas fronteiras como medida de segurança.

O levantamento de muros, a militarização de pontos limítrofes e o aumento de controles são algumas das medidas tomadas por vários Estados que consideram as iniciativas promovidas pelo CE insuficientes.

A diretoria da comunidade propôs um sistema de quotas para a redistribuição de 160 mil refugiados entre os países membro, mas apenas cerca de 270 foram realocados até agora.

Alguns membros como Eslováquia, Polônia, Hungria e República Checa se opõem decididamente a esse mecanismo e escolhem aplicar regulamentos próprios.

Juncker criticou aqueles que tomaram decisões desse tipo e considerou inconcebível que não seja respeitado o que aprovaram o Conselho e Parlamento europeus.

Do mesmo modo, alertou sobre os efeitos negativos do possível fim do espaço Schengen de livre mobilidade.

Se tudo isto se derrubar, o custo econômico e o impacto no crescimento seriam enormes. Sem Schengen, sem liberdade de movimento e de viagem, não faz sentido uma moeda única, explicou.

Além das repercussões políticas, afirmou que o custo econômico seria de três bilhões de euros.

Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, indicou que a União conta com pouco tempo para demonstrar a efetividade de sua estratégia perante a crise de refugiados e que, se não conseguir, enfrentará graves consequências.

No entanto, o tema migratório não é a única preocupação de Bruxelas.

Além do incontrolável fluxo de indocumentados e as constantes críticas recebidas, o bloco está em xeque pelas ameaças separatistas de um de seus membros.

Depois de vencer nas eleições de maio de 2015, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, começou a exercer pressão sobre a aliança comunitária para obter concessões e afirmou que a transformação da UE é uma condição fundamental para que Londres continue nela.

Entre as reformas solicitadas, se destaca a redução da migração intracomunitária e que os cidadãos europeus morem e paguem imposto ao Reino Unido durante quatro anos antes de poder receber benefícios sociais.

Além disso, Cameron pede que a UE seja considerada como uma união multi-moeda e que a libra esterlina tenha o mesmo status regional do euro.

Também defende que outras faculdades maiores sejam entregues aos parlamentos de cada país, incluindo a capacidade de vetar legislações propostas pela direção da UE.

Ainda que os Estados membro apoiem a continuidade do Reino Unido no bloco e estão abertos ao debate, a maioria se nega a negociar os princípios fundamentais da União.

Não obstante, Cameron e Bruxelas demonstram estar confiantes que se chegará a um acordo que beneficie de ambas as partes.

No entanto, o Premiê explicou que, aconteça o que acontecer, nos diálogos com seus sócios, a última palavra será dos cidadãos britânicos no referendo previsto para final de 2017.

De acordo com o analista financeiro Matthew Lynn, existe uma infinidade de cenários apocalípticos sobre o quê vai acontecer se o Reino Unido decidir abandonar a UE, mas na verdade não haverá grandes repercussões econômicas.

Para além de prováveis consequências no âmbito comercial e financeiro, os especialistas advertem sobre um possível efeito dominó tanto no exterior como no interior do país.

Ainda que especialistas temam que outros questionem sua participação no bloco ou exijam mais mudanças neste, também existe a possibilidade de que se reabra o debate sobre a independência da Escócia.

De todas formas, as previsões não são boas para a UE em 2016, um ano em que qualquer passo em falso pode custar muito caro.