O menino que vem ganhando o mundo

As animações brasileiras vêm ganhando destaque no mundo. Com traços simples, em 2D, fugindo a regra atual das animações, o indicado ao Oscar O Menino e o mundo, de Alê Abreu, vem mesmo ganhando o mundo com uma história universal e extremante lúdica.

Por Vandré Fernandes*, no porta da UJS

O menino e o mundo - Divulgação

Na animação, Alê conta a história de uma família pobre, que vive da agricultura. O pai vai em busca de um emprego melhor, em um lugar longínquo. Começa aí a saga desse menino de olhar triste, porém muito curioso, em busca de seu pai.

O menino se vê num mundo estranho, diferente do seu habitat. Como se o diretor buscasse aquele olhar que ora é de deslumbramento ora é de medo e insegurança, bem comum nas pessoas que vivem em cidades bucólicas, interioranas e que tem o primeiro contato com uma megametrópole.

Nessa caminhada ele conhece pessoas boas, como um ciclista, que lhe dá carona, mas também a fúria dos homens com seus tanques e sua repressão.

Muitas vezes a gente tem a impressão de que os outdoors, associados ao consumo, irão engolir o menino. É a máquina capitalista e a sua agressividade atuando em contraste com o singelo rebento a procura de seu pai.

Alê não utiliza diálogos. Usa um rosnar como a principal comunicação entre os personagens. Ele gravou em português e inverteu, ficando incompreensível. Isso fica claro, pois a história não parece que se passa no Brasil, se passa no mundo. Na verdade, num mundo imaginário do menino. Por isso, elementos asiáticos e ocidentais se misturam passando por várias culturas.

O início do filme em que a família está conversando lembra o cotidiano de uma família filmado pelo mestre Ozu, do cinema japonês. Outras referências são claras, como a cena do lixão com as crianças. Elas nos remetem aos planos de Estamira, de Marcos Prado e o Bandido da Luz Vermelha de Rogério Sganzerla. Mas também fazem lembrar em pequenos momentos As bicicletas de Beleville, de Sylvain Chomet, uma animação que também foi indicada ao Oscar de 2004, perdendo para Procurando Nemo, sob o argumento de alguns críticos de que as imagens deveriam ser menos lúdicas e ter diálogos. Se essa visão prevalecer, O Menino deve perder para Divertida Mente.

Mas O Menino e o Mundo já é um clássico. Recebeu dezenas de prêmios pelo mundo a fora, inclusive 38º Festival de cinema de animação de Annecy, na França, esse sim, o prêmio máximo da animação mundial.

Se o Menino vencer o Oscar ganhará sobrevida e pode voltar a frequentar as salas de cinema do Brasil e do mundo, senão, pode se dizer que sua trajetória foi umas das mais vitoriosas, além disso, colocou o Brasil no top das animações.

Assista ao trailer: