Boi Neon, entre os sonhos e o nada

Interessante ver que o início de 2016 não foi ocupado com as comédias “padrão globo”. Nos anos anteriores, aproveitando o período de férias, era o gênero que figurava nas telas, abocanhando os espectadores.

Por Vandré Fernandes*, no portal da UJS

Boi neon - Divulgação

O cinema brasileiro inicia o ano mantendo alguns filmes do final do ano passado como Califórnia, de Marina Person; o retorno de O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, graças a indicação ao Oscar; a produção protagonizada por Cauê Raymond em Reza a Lenda, de Homero Olivetto; e o excelente Boi neon, do pernambucano Gabriel Mascaro.

Boi neon faz um pequeno recorte da cultura nordestina – a Vaquejada.

Na trama, um grupo de trabalhadores – três homens, uma mulher e uma criança – leva bois para participar de eventos em cidades vizinhas.

São personagens ricos, e mesmo que conflituosos, esse conflito se perde no cotidiano do sertão. Eles dormem, acordam, tratam dos bois. Há uma cena de uma transa no pasto, no mesmo lugar em que eles fazem suas necessidades. Como se eles mesmos fossem o próprio gado.

Porém, o roteiro vai ganhando vida quando percebemos que o sonho de Iremar (Juliano Cazarré), um simples vaqueiro de fisionomia bruta no melhor estilo de um macho dominante, que tem habilidades com o corte e costura, é virar costureiro.

Além disso, a menina Cacá, que tem o sonho de ter um cavalo, é o principal elo entre os vaqueiros e a sua mãe Galega (Maeve Jinkings), motorista e mecânica do próprio caminhão.

É através de Cacá que os sentimentos se afloram entre os abraços carinhosos e falas ríspidas. Entre os demais personagens são sempre diálogos duros, quase sem intersecção, mas bem construídos e muitas vezes engraçadíssimos. Tem cenas impactantes e hilárias, intercalando o fantástico e o bizarro.

A fotografia de Diego Garcia é uma pérola. A construção dos personagens é consistente, principalmente essa inversão do homem bruto ser costureiro e a mulher vaidosa que se depila na boleia e leva no muque o caminhão estrada afora.

É mais um filme do ciclo pernambucano que impressiona e engrandece o nosso cinema. Ele nos releva um cotidiano bem diferente dos grandes centros urbanos, mostrando como é imensa e diversa a cultura brasileira.

Bem, sobre os sonhos dos personagens, são apenas vontades, não depende do individuo para que esses sonhos se tornem realidade. Ela é mais dura e crua. E se os sonhos não envelhecem, eles também podem nunca acontecer. E assim a boiada vai passando. Hêh, boi!

Assista ao trailer: