Osvaldo Bertolino: Lula e o sítio que virou montanha

A romaria da mídia ao Sítio Santa Bárbara, propriedade de Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde os anos 1970, é dessas calamitosas sequências de truques para justificar acusações que fazem primeiro os acusadores perderem a pose, depois o respeito e por fim qualquer condição de continuar falando em moral, ética e bons costumes.

Por Osvaldo Bertolino*, em seu blog

Lula em Água Fria - Francêsca Calado

Perderiam também a vergonha, se esse fosse um valor prezado nos círculos que fazem política se utilizando da trapaça.

Quem não sabe que fique sabendo que quando a mídia escolhe alguém para crucificar, em geral injustamente, como no caso de Lula, não há reputação que resista incólume. Só se veem maledicências nas informações passadas por uma espécie de fila indiana que começou com uma ex-dona de uma loja de materiais de construção de Atibaia (SP) e já chegou em um topógrafo. O que está se passando com Lula mostra como é fácil, e isento de quaisquer ônus, atentar contra a honra de uma pessoa simplesmente porque ela não reza pela ladainha da direita.

O sítio de Atibaia é a versão brasileira daquilo que o cineasta Billy Wilder chamou de “Big Carnival” (Grande Carnaval) — filme que no Brasil recebeu o nome de “A Montanha dos Sete Abutres” e que retrata o caso de um repórter especialista na arte da trapaça —, transformado na mais recente fonte do noticiário canalha. A facilidade com que esse noticiário difunde torpezas estimula um irresponsável clima de guerra política. Seus cabeças são conhecidos lobisomens da mídia. (O lobisomem é um animal do folclore que se acredita consumir carne humana ou sangue, e que pode passar de lobo a humano e de humano a lobo. Aparece sempre em noites de lua cheia.)

Nazista

Esse comportamento não é, absolutamente, irrelevante, porque inclui a mentira e não deve ser subestimado. Trata-se de um noticiário — melhor seria dizer bagunçário — que cumpre papel bem definido no jogo político que se estabeleceu no país. Desde que a mídia criou a farsa do “mensalão”, o que se vê é um panorama de ruínas que em nada confere com a realidade. E, do nada, outras crises aparecem.

Acusações levianas como essas contra Lula não representam novidade nesse particular palco da mídia. Esses prostíbulos morais são palanques políticos em que informar é o que menos importa. Há uma combinação quase macabra de interesses contra o país.

Quem quiser ocupar os holofotes para jogar lama nos que se contrapoem às suas trapaças tem espaço garantido — seja uma ex-dona de uma loja de materiais de construção, seja um topógrafo ou um vigarista político. As suposições são imediatamente reproduzidas e, assim, cria-se um ambiente em que os acusados têm que provar que são inocentes. O nazista Joseph Goebbels não faria melhor.