A eleição de 1989 e a de 2018: semelhanças e retrocessos 

Muitos candidatos, crises ético-moral, política e econômica, quadro partidário caótico e em franca deterioração, agenda conservadora em ascensão e pessimismo geral estimulado pela mídia e agentes econômicos e de mercado.

Por Marcos Verlaine*, no Portal da CTB 

A eleição de 1989 e a de 2018: semelhanças e retrocessos

A eleição presidencial de 2018 terá uma singularidade fundamental em relação à de 1989. Serão muitos candidatos e nenhum, por enquanto, favorito, como no pleito de 1989, vencido por Fernando Collor, que concorreu pelo insignificante e artificial PRN (Partido da Renovação Nacional). Collor sofreu processo de impeachment e foi impedido em 1991.

Naquela eleição, que completará, em 2018, 29 anos, tinha candidatos para todos os gostos e matizes políticos. Até o apresentador de TV Sílvio Santos postulou a Presidência da República pelo então PMB (Partido Municipalista Brasileiro), cuja candidatura foi anulada porque, no dia 9 de novembro de 1989, o TSE cassou, por unanimidade, o registro do partido.

O PMB deveria comprovar a realização de convenções em nove estados, mas fez apenas em quatro. Com isso, o TSE entendeu que o partido não existia, o que tornava inválida a candidatura do”‘Homem do Baú”, que decidiu não recorrer da decisão.

Foram 23 postulantes no pleito de 89: Collor (PRN), Lula (PT), Brizola (PDT), Covas (PSDB), Maluf (PDS), Afif Domingos (PL), Ulysses Guimarães (PMDB), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Affonso Camargo (PTB), Enéas Carneiro (Prona), Marronzinho (PSP), Paulo Gontijo (PP), Zamir Teixeira (PCN), Lívia Maria de Abreu (PN), Eudes Mattar (PLP), Gabeira (PV), Celso Brant (PMN), Antônio Pedreira (PPB), Manuel Horta (PDCdoB) e Sílvio Santos (PMB), que substituiu Armando Corrêa (PMB).

Outra peculiaridade da época foi a quantidade de partidos. A grande maioria insignificante, siglas de aluguel, sem nenhuma intervenção concreta na sociedade. Um quadro muito parecido com o atual.

No pleito de 2018 serão muitos candidatos, num quadro partidário caótico e errático, cujo descrédito é cada vez maior. Isto, em razão da deterioração da política promovida, de um lado pela maioria dos representantes do povo, que em larga medida representam tão somente seus financiadores de campanha e seus interesses próprios ou de corporações, e de outro, pela mídia, cuja contribuição para despolitização do povo e desqualificação da política deve ser estudada para denunciar os interesses nefastos e obscuros que representam.

Muitos dos candidatos de 1989 morreram e a renovação precária na política partidária indica que houve uma piora considerável de lá até aqui. Resultado dos fenômenos acima citados.

Um bom exemplo disso foi o pleito de 2014, que segundo o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), elegeu o pior Congresso dos últimos 20 anos, em termos qualitativos.

Este ano haverá o pleito municipal, que não se compara com o presidencial, mas dá uma boa dimensão da disputa nacional, pois as forças vencedoras ‘fincam o pé’ onde os eleitores vivem, nos municípios, e influenciam o debate na disputa nacional dois anos depois.

Possíveis candidatos de 2018

No insípido, inodoro e incolor quadro partidário brasileiro poderão se apresentar candidatos presidenciais como Lula, cujo nome e partido estão mergulhados numa profunda crise. Se Lula não for candidato poderá indicar, dependendo da gestão na Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad ou o governador de Minas, Fernando Pimentel.

No quesito Lula-PT, é importante destacar o trabalho de demolição das imagens promovido pela mídia e seus tentáculos contra o ex-presidente e o partido, que é visto hoje pela população como o mais corrupto do Brasil. Embora não seja, pelo ranking do MCCE (Movimento Contra a Corrupção Eleitoral), organização da sociedade civil, que identifica o DEM, com 69 políticos cassados, como detentor dessa ‘elogiosa categoria’, seguido pelo PMDB e depois o PSDB. O PT, pelo recorte do MCCE, é o 10º nesse quesito.

Trata-se, pois, pode-se deduzir, de campanha contra um possível candidato e um partido, com o objetivo de criminalizá-los para inviabilizá-los politicamente e eleitoralmente. Deixando o caminho aberto para os seus adversários diretos e preferidos pelo mercado.

Ciro Gomes

O PDT já anunciou pré-candidato, o ex-governador Ciro Gomes, cujo domicilio eleitoral agora é São Paulo. Ele poderia ser uma espécie de ‘plano B’ do PT. Ciro já foi duas vezes candidato. Hoje apoia o governo Dilma, mais pelo que representa do que pelo que faz. Crítico do PT, Dilma e Lula, mas leal aos fundamentos políticos e sociais que elegeram Lula-Dilma.

Aécio, Alckmin e Serra

Poderão vir ainda Aécio Neves (PSDB), hegemônico no ninho tucano, poderá defenestrar o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que desembarcaria da nau tucana para se candidatar pelo PSB e também o senador José Serra (PSDB-SP), que é cobiçado pelo PMDB.

Caiado

Demonstra interesse na corrida presidencial o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que se cogita também poderá ser vice de Aécio.

Bolsonaro

Defendendo posições mais radicalizadas, de cunho conservador e de direita, há o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), cuja vice poderia ser a jornalista Rachel Sheherazade, que apresenta o Jornal do SBT. Ambos têm o mesmo perfil. Há conversas e articulações nesse sentido.

Marina

Marina Silva, agora pelo legalizado Rede Solidariedade, é candidatíssima. Ela vem com os recalls dos pleitos de 2010 e 2014. Em 2010 foi apresentada como novidade. Na eleição passada quase chegou ao segundo turno, mas as forças ocultas (mercado e mídia) que operam nas eleições perceberam que o melhor candidato para derrotar o PT era Aécio e ela foi descartada na reta final do primeiro turno.

Partidos ideológicos

Não se descartam as candidaturas de partidos ideológicos como o PSol, PSTU, PCO e PCB, cuja agenda mobiliza pouquíssimos eleitores, pois propõem algo que não interessa porque não é compreendido pela maioria dos eleitores, cujo nível de politização é precaríssimo.

Candidatos pitorescos

Esses nunca faltam. Não se pode descartar também aquelas candidaturas pitorescas, como as apresentadas em 2014, pelo PSC, PSDC e PRTB, cujo ‘ideário’ confuso e sem chances na disputa real contribuem para a apatia político-eleitoral e a ojeriza aos candidatos e às eleições, que não é só presidencial. No pleito de 2018 haverá eleições também para governadores, senadores e deputados federais e estaduais.

É nesse quadro incerto, nebuloso e pessimista que os brasileiros serão introduzidos daqui a dois anos, no pleito de 2018.

Resumo da Ópera: a esquizofrenia campeia solta. Mesmo com a sensível melhora social do país nos últimos 12 anos, a mídia e os agentes políticos e de mercado, articulados num consórcio conservador, passaram e passam à população a ideia e imagem que tudo piorou. Assim, a disputa será nebulosa, com a possibilidade de uma agenda pior que a atual sair-se vitoriosa. Pior para o povo em geral e os trabalhadores em particular!

A eleição presidencial argentina é uma boa referência do que poderá vir pela frente!