Aventuras no Irã: uma saudita conta o que viu 

Na mente dos cidadãos que se abastecem com informações feitas pela mídia corporativa ao redor do mundo, é pouco provável que existam ideias tão más como essa: uma cidadã saudita que trabalhava em Londres resolve mudar-se para o Irã. Para surpresa de muitos, e dela própria, a experiência é boa e ela resolveu compartilhá-la na Internet.
 

Sara Mesri em Teerã

Levando em consideração que, em teoria, a mudança da Arábia Saudita para o Irã é possível, não há pessoas que a considerem como razoável. É preciso notar também que a vida das mulheres na ditadura saudita não é nada fácil, visto que a repressão a elas é ainda mais dura que poderia ser no Irã.

Mesmo assim, Sara Mesri tomou a decisão de mudar a imagem do Irã, ainda que não seja fácil. No seu blog chamado "Uma Saudita no Irã", a mulher partilha as suas impressões sobre a viagem e quase todas são favoráveis aos iranianos.

Sara vive e trabalha no país persa há dez meses e, ao ser indagada pela emissora pública russa Sputnik sobre as experiências negativas que teve neste período no Irã, ela disse que não se lembrava de nada de negativo.

Após os acontecimentos trágicos em Mina – quando cerca de 500 iranianos morreram esmagados na Arábia Saudita durante peregrinação ritual chamada de hadj em 2015 – Sara escreveu que no Irã "ninguém se preocupa com o fato de eu ser natural da Arábia Saudita ou ser sunita".

Segundo a mulher, a cultura iraniana sempre a atraiu e um dia ela chegou à conclusão de que "para compreender o que é o Irã eu preciso viver lá".

"Quando eu tomei a decisão de deixar o meu trabalho em Londres e viajar para o Irã para estudar, a minha família e amigos tentaram me parar. Para fazer justiça é preciso dizer que eles tinham razão para isso: com raras excepções, todas as notícias que nós ouvíamos sobre este país eram negativas", disse ela.

Sara Mesri conta que os iranianos são muito corteses, lhe tratam bem e são hospitaleiros.

"Eles sempre sabem distinguir a política das relações entre as pessoas comuns o que, me parece, é um fenômeno único no atual Oriente Médio", notou.

Sara contou que viaja muito pelo Irã e que já "viu muitas cidades belas, encontrou-se com muitas pessoas interessantes e fiz bons amigos".

Mas, tal como em qualquer viagem, nem tudo correu bem e Sara enfrentou algumas situações de emergência.

"Um dia eu perdi a minha carteira com o meu documento de identidade e a permissão para dirigir. A polícia e os meus amigos estavam convencidos de que eu nunca mais veria as minhas coisas. Mas, passadas uns dias, uma mulher telefonou-me se apresentando como a mulher do taxista que tinha achado a minha carteira e já por vários dias tentava me achar", disse.

É preciso lembrar que na ditadura da Arábia Saudita as mulheres não têm permissão de dirigir automóveis.

Segundo ela, ninguém a tratou diferentemente por causa da tragédia em Mina. A estudante contou outra história que aconteceu logo após um acidente num café iraniano.

"Um dos meus amigos se aproximou de mim e fez uma piada se dirigindo ao empregado: 'Não venda nada a ela, ela é da Arábia Saudita'. Depois ele fugiu. Uma mulher que ouviu tudo veio ter comigo e, durante cinco minutos esteve me pedindo desculpas pela 'ignorância', como ela disse, do seu compatriota".

Segundo a estudante, em qualquer lugar do mundo existem chauvinistas, mas ela sublinha que ainda não os viu no Irã.