Dilma reitera que não renuncia: “Não sou uma mulher fraca”

A presidenta Dilma Rousseff concedeu nesta quinta (24) longa entrevista à mídia internacional, na qual denunciou o golpe em curso no Brasil. A correspondentes de alguns dos mais influentes jornais do mundo, reiterou que não há base legal para seu afastamento e que tirá-la do cargo assim deixaria cicatrizes profundas na democracia e na política nacional. A presidenta voltou a descartar a possibilidade de renúncia. “Por que eles querem que eu renuncie? Porque eu sou uma mulher fraca? Eu não sou.”

Dilma Rousseff

Aos jornalistas, Dilma disse que o processo de impeachment tem “vácuo de fundamentos legais”. Segundo o The Guardian, ela denunciou os “métodos fascistas” usados por parte da oposição, que estimula o ódio. “Nunca vimos tanta intolerância no Brasil”, lamentou a presidenta.

“Não estou comparando o golpe de agora com o golpe dos militares [de 1964], mas de todo modo poderá quebrar a ordem democrática do país. E isso terá consequência. Talvez não imediatamente, mas será uma cicatriz na vida política nacional”, prosseguiu.

Ao repetir que não há chances de renunciar ao cargo, Dilma avaliou que a oposição clama por essa saída como uma forma de “evitar a dificuldade de remover – indevida, ilegal e criminosamente – uma presidenta eleita democraticamente”.

Na opinião da presidenta, a oposição não aceitou sua derrota estreita na eleição de 2014 e, desde então, tem desenvolvido uma estratégia de “quanto pior, melhor”, sabotando sua agenda e afundando o país.

Quanto às manifestações, Dilma ressaltou que é a favor de protestos de rua, porque veio de “uma geração em que se abrisse a boca, poderia ir para a cadeia”. Mas sublinhou que aqueles que tomaram as ruas contra seu governo representam menos de 2% de toda a população do Brasil.

Segundo o The New York Times, a mandatária também fez críticas a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que o presidente da Câmara dos Deputados pôs o impeachment em pauta para encobrir seus próprios problemas com a Justiça.

Sobre o ex-presidente Lula, Dilma negou que sua nomeação como ministro da Casa Civil tenha sido para que ele seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal. “Lula não é apenas um bom articulador, ele também compreende todos os problemas do Brasil”, disse ela, insistindo que a ideia de que ele foi nomeado para evitar sua saída não faz sentido.

“Um ministro do gabinete não está imune a investigações, ele enfrenta investigação por parte da Suprema Corte”, disse ela. “A Suprema Corte não é boa o suficiente para investigar Lula?”, indagou.

A presidenta disse ainda que irá “apelar com todas as armas legais disponíveis”, caso o Congresso vote a favor do impeachment. Dilma também previu que o clima no país será de paz quando a Olimpíada do Rio começar, em agosto.

Calma e aparentemente animada durante toda a entrevista, a única vez que Rousseff expressou irritação foi quando ela lembrou a decisão do juiz Sérgio Moro em liberar para a mídia as gravações telefônicas interceptadas no telefone. “Violar a privacidade quebra a democracia, porque quebra o direito de cada cidadão a uma vida privada”, disse ela.

Participaram da conversa, que durou cerca de 90 minutos, repórteres do The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Página 12 (Argentina), Le Monde (França) e Die Zeit (Alemanha). A entrevista da presidenta com o grupo de correspondentes estrangeiros é parte de uma estratégia do Palácio do Planalto de chamar a atenção para o processo político brasileiro no exterior.