Em Fortaleza, Lula cobra que Temer “aprenda sobre eleições”
O ato organizado pela Frente Brasil Popular em defesa da democracia na Praça do Ferreira, no centro da capital cearense, em Fortaleza, neste sábado (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou responsabilidade do vice-presidente da República, Michel Temer.
Publicado 02/04/2016 14:07
“Eu perdi muitas eleições. E eu quero que ele (Temer) aprenda sobre as eleições. O Temer é um professor de direito e sabe que o quê estão fazendo é um golpe. E isso, ele sabe que vão cobrar é dos dos filhos dele, é do neto dele amanhã. Porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar derrubar um mandato legal”, afirmou.
O ato aconteceu na Praça do Ferreira, no centro da capital cearense. De acordo com os organizadores mais de 65 mil pessoas participaram do ato e gritam palavras de ordem contra o golpe e a Rede Globo, mesmo sob chuva. Antes da chegada do ex-presidente, o grito mais comum era "Lula, me liga, me chama de querida".
Diversas lideranças do Ceará de de estados do Nordeste participaram do ato, além dos governadores Camilo Santana (Ceará) e Wellington Dias (Piauí), do deputado federal Chico Lopes e de vários integrantes da bancada cearense que votarão contra o impeachment, além de inúmeras lideranças, entidades sociais e sindicais, representações populares dos mais diversos setores.
Lula afirmou que os opositores precisam explicar o porquê de tanto ódio contra a primeira presidente do país. "Será que é ódio por que a empregada doméstica passou a ter direito neste país? Será que é ódio por que filho de pobre, negro, da periferia, passou a fazer faculdade? Será que é ódio por que 22 milhões de empregos foram gerados em 12 anos? Será que o ódio é por que todos os trabalhadores organizados tiveram aumento de salário? Será que é por causa do Fies, do Pronatec, das escolas técnicas, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família e do aumento real do salario minimo: Eles precisam explicar porque tanto ódio da primeira mulher que preside o país", destacou.
Lula rebateu a tese de que o impeachment em andamento na Câmara dos Deputado não é golpe. "Ninguém aqui é contra o impeachment que está na Constituição com base legal, por crime de responsabilidade, mas Dilma não cometeu nenhum crime, nenhuma irregularidade; por isso, defender impeachment hoje é, sim, ser golpista neste país", disse. "A melhor forma de chegar ao poder é pelo voto; o resto é golpe", complementou. "Vamos falar para o Cunha e para o Temer: não vai ter golpe!", reafirmou.
"Pra ter impeachment tem que ter base legal, tem que ter crime de responsabilidade. E a companheira Dilma e o seu governo não cometeram nenhum crime de responsabilidade. Por isso defender o impeachment é ser golpista, neste instante neste país", destacou Lula, sob muitos aplausos.
"Queria que todos prestassem atenção ao que está em jogo neste instante, que nós já vimos em 1964. Não é tentar derrubar a Dilma com um golpe pra colocar alguma coisa melhor. Olha quem tá pretendendo governar este País. Olha se eles têm alguma preocupação com o social deste País", apontou o ex-presidente. "Eles não querem governar este país pra aumentar salário mínimo, pra garantir piso dos professores, pra garantir o Bolsa-família e reajuste anual do salário, pra garantir que as pessoas mais pobres tenham direitos, enumerou, citando vários avanços sociais obtidos nos últimos 14 anos", advertiu.
Outdoors e Casa Civil
"Eu soube que ontem nessa cidade encheram de outdoor contra o Lula. Eu não fico com ódio não. Aos 70 anos eu já tô pensando que o homem tá me chamando. O dinheiro que essas pessoas gastaram com outdoor pra falar mal de mim, deveriam ter vergonha na cara e fazer outdoor dizendo o que eu fiz pelo Nordeste brasileiro e o que eu fiz pelo Ceará", disse o ex-presidente, sobre os ataques sofridos em peças publicitárias pagas por forças conservadoras em Fortaleza.
"Eu só tenho uma coisa nesta vida de compromisso: é com o povo deste país. Eu faz dois anos que tô sendo vítima dos maiores ataques que um ser humano foi vítima. Todo santo dia. Eles já criaram um apartamento pra mim que não é meu, e eu quero convidar todos vocês, no dia que for meu. Eles já inventaram uma chácara que não é minha, e quando ela for minha vocês vão visitar minha chácara", acrescentou Lula.
"Inventaram até um barco de quatro mil dólares. Parece o Lady Laura. É um verdadeiro iate Eu nem vou em Angra com meu iate, pra não competir com Roberto Carlos. Ou seja, já inventaram de tudo", apontou.
E acrescenta: "Nós vamos garantir a governabilidade da Dilma, porque este país não pode voltar atrás. Nós sabemos como era o Ceará, como era Pernambuco, a Paraíba e o Rio Grande do Norte quando eles estavam no governo".
O ex-presidente afirmou que "eles não querem governar o pais para aumentar salário minimo, nem para para garantir as pessoas mais pobres o direito de subir mais um degrau". "Eles não aprenderam a dividir os espaços com o povo", afirmou.
Lula também falou sobre a possibilidade de reassumir a Casa Civil. "Na quinta-feira, se tudo der certo, eu estarei assumindo a Casa Civil, se a Suprema Corte aprovar, para ajudar a presidente Dilma, andar de mãos dadas com ela e com vocês, para criar condições de melhorar a vida do povo", afirmou. "Nós temos que garantir a governabilidade à Dilma", frisou.
O ex-presidente também falou sobre o clima de intolerância e ódio insuflado pela direita conservadora. "Eu estou estranhando um pouco o que está acontecendo no nosso país. Eu completei 70 anos de idade. Vivo neste país fazendo política e nunca vi um clima de ódio estabelecido no país como está estabelecido agora. Aqueles que amam a democracia aqueles que gostam de fazer política […] querem que se respeite a coisa mais elementar, que é o respeito ao voto popular que elegeu a Dilma”, discursou diante do público presente ao ato.
Povo nas ruas
Em entrevista ao G1, Dona Teresa, que foi à praça com amiga Laire: “Viemos preparadas com guarda-chuva, mas não vamos deixar de defender a presidenta Dilma, Lula e a democracia. Estamos em um momento que precisamos de união e a participação de todos na luta é importante''.
"Pela primeira vez, um presidente passou a olhar para as pessoas mais humildes, essa luta tem que avançar, mas a elite política não quer permitir, com um golpe político'', disse Francisco Aldebran.
"Não vai ter golpe! Vai ter luta", "Não vai ter golpe! Vai ter Lula", conclamou a população cearense. Foram jovens e idosos, pais e crianças, homens e mulheres, moradores de diversos bairros da capital e de diferentes municípios do Interior, unidos para defender a liberdade e evitar que a história do Brasil volte a ser manchada por um golpe.