Publicado 06/04/2016 12:31

“Entendo essencialmente que o impeachment contra a Dilma constitui um golpe de Estado e portanto é um atentado contra a Constituição brasileira, o que, a meu ver, é muito grave”, avalia Bresser-Pereira, em uma entrevista ao portal Calle 2, revista eletrônica com narrativas da América Latina.
Para ele, a melhor e mais provável saída “é a rejeição do impeachment, com Dilma seguindo seu governo”. E enfatiza: “Ela é a presidente eleita, foi eleita regularmente, não há razão para o impeachment. Então vamos tratar de viver com ela”, defendeu.
Para ele, um eventual governo do vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), traria uma guinada neoliberal, o que pode condenar o Brasil a uma “estagnação de longo prazo”. Ele acredita que o padrão moral da política e o cenário econômico iriam piorar com o impeachment.
“Quando você vê a fotografia das pessoas que estavam na reunião do PMDB e compara o padrão moral daquelas pessoas com o padrão moral de quem está hoje no Planalto (…) Com o impeachment, esse padrão moral vai piorar muito”, disse o economista.
Ele disse ainda que o ajuste fiscal num eventual governo do PMDB seria ainda mais agressivo do que o atual e valorizaria o real, na tentativa de segurar a inflação. “Sou absolutamente contra, porque isso é condenar o Brasil a uma estagnação a longo prazo e talvez eternamente.” “É equivocada a tese de que, com o impeachment, os empresários restabelecem sua confiança e o Brasil volta ao paraíso”, acrescenta o ex-ministro dos governos de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
Sobre as denúncias de corrupção contra o PT, interpreta que “isso decorreu de alguns líderes (…) e a presidenta Dilma, que eu acredito que não esteve em nenhum momento envolvida nessa forma de financiamento do partido, está sofrendo por causa disso”.
Questionado sobre o cenário inflamado que se criou entre os brasileiros ao se discutir política, Bresser-Pereira opinou: “Houve uma guinada para a direita de uma parte importante da classe média, e ela então passou a ter um sentimento de ódio. Isso é fascismo, isso é profundamente antidemocrático. Quando entra o ódio na política, desaparece a razão, desaparece a política”.