Europa destaca votação na câmara como rebelião de hipócritas 

A imprensa da Europa destacou nesta segunda-feira (18) o que chamou de "rebelião de hipócritas" dos deputados que votaram pela derrubada da presidenta Dilma Rousseff no processo de impeachment conduzido por Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados.

Votação do impeachment na Câmara dos Deputados

O site da revista conservadora alemã Der Spiegel afirma que o Congresso brasileiro mostrou seu "rosto verdadeiro" e fez uso de meios constitucionalmente questionáveis para realizar o processo.

O artigo assinado pelo correspondente Jens Glüsing afirma que a Câmara dos Deputados mostrou sua "verdadeira cara" e colocou o Brasil numa "rota de direita".

"A maior parte dos deputados evocou Deus e a família na hora de dar o seu voto. Jair Bolsonaro até mesmo defendeu, com palavras ardentes, um dos piores torturadores da ditadura militar", escreve o jornalista, que lembra que tanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como o vice-presidente Michel Temer são alvos de investigações por corrupção.

Segundo a revista, os deputados que votaram a favor do impeachment vão cobrar postos no governo de Temer, caso ele assuma a Presidência da República, e que muitos deles esperam que, com a vitória da oposição, as investigações da Operação Lava Jato desapareçam.

Por sua vez, o semanário alemão Die Zeit disse que a votação mais parecia um carnaval e que uma pessoa desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia da gravidade da situação. "Nesse dia decisivo para o destino político da sétima maior economia do mundo, o que se viu foram horas de deputados aos berros, que se abraçavam, tiravam selfies e entoavam canções", disse o correspondente Thomas Fischermann.

"Nos discursos dos representantes do povo havia tudo o que se possa imaginar: lembranças aos netos, xingamentos contra a educação sexual nas escolas, pala paz de Jerusalém, elogios a um torturador da ditadura e assim por diante", afirma.

Para o jornal britânico The Guardian, a Câmara dos Deputados hostil e manchada pela corrupção votou pelo impedimento da presidenta. "O ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, o deputado de extrema direita do Rio de Janeiro, dedicou seu voto a Carlos Brilhante Ustra, o coronel que comandou a tortura do DOI-Codi durante a era ditatorial".

O espanhol El País afirmou em um trecho das reportagens que fez sobre o golpe em curso que a votação na Câmara foi marcada por tumulto e "cânticos um tanto ridículos". O jornal destacou também que o processo tocado por Eduardo Cunha, que mantém contas milionárias na Suíça com dinheiro da Petrobras, é "um sintoma da estrutura moral de boa parte do Congresso brasileiro".