Direito à comunicação: entidades "enterram" mídia monopolista em SP

É inédito no Brasil o grupo Globo e associados estarem sob a mira do público, como agora. O feito é de entidades e ativistas que lutam pela democratização da mídia e fizeram nesta quinta-feira (5), na Avenida Paulista, em São Paulo, o enterro do chamado Partido da Imprensa Golpista (PIG), que tem papel decisivo no golpe contra Dilma Rousseff. O ato, que também aconteceu em outros estados, denunciou a propriedade dos veículos de comunicação, nas mãos de sete famílias.

Por Railídia Carvalho

Ato noMasp contra o golpismo midiático - jornalistas livres
O cortejo fúnebre, com direito à velas e caixão (decorado com notícias dos veículos de imprensa denunciados), começou no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e caminhou pela avenida paulista até a Tv Gazeta, onde foi realizado o enterro simbólico. 
No momento em que o cortejo passou pela frente da sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) um homem não identificado que assistia à manifestação gritou: “Skaf sonegador de impostos. Aqui é o quartel general do fascismo”.
 
Comunicação no foco  
Para a presidenta do FNDC, Renata Mielli, o debate da comunicação vem conquistando espaço. “Nunca conseguimos envolver tantos movimentos sociais e mesmo setores da sociedade na discussão da comunicação. É muito difícil ir em alguma atividade do movimento social que um dirigente não fale do papel golpista dos meios de comunicação. As pessoas vão começando a ter a percepção. O desafio agora é sair do discurso e colocar na pauta política do movimento”, analisou.
“O movimento sindical precisa abraçar a pauta da democratização da comunicação, que ainda não é uma luta da sociedade, é de setores”, disse Raimunda Gomes, a Doquinha, secretária de imprensa e comunicação da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Para ela os veículos de comunicação das grandes empresas criam um único foco que dificulta a contestação. “Atos como esse (quinta-feira) são importantes para quebrar essas barreiras”, avaliou a dirigente.
O integrante do coletivo Intervozes, André Pasti, lembrou que momentos como esse “em que a mídia atua explicitamente, neste caso a favor do golpe de Estado” propiciam a atenção para o tema. “Possibilta que se dialogue com a sociedade em outro patamar. As pessoas conseguem perceber certas movimentações da Globo e dos jornais. A existência do monopólio faz com que não haja pluralidade de visões”, opinou.
Formação
“Nunca existiu no Brasil a pluralidade da mídia. As pessoas não tem o acesso ao conhecimento, não tem como se imaginar o que pode vir a ser outra mídia. É de difícil compreensão para a maioria das pessoas. É um processo de educação. É pedagógico, um trabalho de criação do novo”, ponderou Guto Camargo, secretário geral da Fenaj. 
 
Para Guto o atual momento é de busca de alternativas. “As situações (manipulação e parcialidade na produção e divulgação de notícias) são realidades concretas. As pessoas percebem quando a situação não é adequada e precisam procurar as alternativas. Estamos em um momento de busca de alternativas. A internet representa a possibilidade de encontrar esta alternativa mesmo sendo um espaço a ser consolidado”, observou.

A organização do ato é do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Frente Brasil Popular. Também participaram da manifestação a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Centro de Estudos de Mìdia Alternativa Barão de Itararé, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Levante Popular da Juventude e Coletivo Intervozes.