Nós iremos resistir e lutar para ganhar no mérito, afirma Dilma à BBC

Em entrevista à BBC de Londres, a presidenta Dilma Rousseff reafirmou que o que está em curso no país é um golpe parlamentar, mas enfatizou sua disposição de lutar para fazer prevalecer a democracia e a legitimidade de seu mandato.

Dilma

“O que nós iremos fazer é resistir, resistir e resistir. E lutar para quê? Para ganhar [o julgamento] no mérito e retornar ao governo”, salientou a presidenta, destacando que não há nenhum temor “porque eu não devo nada”. A entrevista foi concedida nesta quarta-feira (4),no Palácio do Planalto.

Dilma também reforçou que a proposta de renúncia aventada pela oposição tucana não está em seus planos. “Porque, se eu renuncio, a prova viva de que há um golpe, de que foi cometida uma injustiça, de que tem uma pessoa que está sendo vítima porque é inocente, desaparece. Não contem com isso porque eu não vou renunciar”, frisou.

Dilma disse ainda que o golpe é feito por “aqueles que não têm votos suficientes e, portanto, legitimidade suficiente, nem aprovação, nem popularidade suficientes”.

Questionada se o avanço do processo de impeachment se devia à sua baixa popularidade, Dilma rebateu: “Porque se a questão fosse popularidade, o vice-presidente tem menos aprovação do que eu. Quem não tem voto suficiente, porque jamais foi eleito numa eleição majoritária, não teve 54 milhões de votos, o que fazem? Criam essa roupa de impeachment. Na verdade essa roupa é um disfarce para uma eleição indireta em que o Parlamento passa a indicar o presidente, e não o voto direto e secreto das urnas”.

A presidenta lembrou também que no Brasil o regime é presidencialista. “Um presidente, em um regime presidencialista, não pode dissolver o Congresso e convocar eleições gerais. De outro lado, o Congresso também não pode alegar desconfiança a respeito do chefe de Estado e de governo e exigir novas eleições. No Brasil, só se tiver um fundamento, uma denúncia forte, uma base jurídica, você pode afastar o presidente. O que vem acontecendo na América Latina e não só no Brasil? Vem ocorrendo a substituição de golpes militares, das décadas de 60 e 70, por golpes parlamentares”, disse.

Sobre as investigações, Dilma reforçou que não há temor sobre o andamento dos processos. “Eu aceito qualquer forma de investigação porque tenho certeza que sou inocente. Então, não será por conta de investigação [que não voltarei à Presidência]. Não há o menor problema. A mim, podem investigar”, afirmou.