Dilma sobre extinção do Minc: Querem voltar ao passado autoritário
Nesta quinta-feira (19), a presidenta Dilma Rousseff voltou a responder perguntas de internautas sobre a atual conjuntura política do país, durante evento ao vivo no Facebook, chamado de Face to Face. Ao lado de Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura, Dilma fez duras críticas à extinção do ministério por Michel Temer, que ocupa à presidência interinamente.
Publicado 19/05/2016 13:13
"A presença da Cultura como Ministério é tão importante para a construção da nacionalidade brasileira que tem de estar refletida na hierarquia do Estado brasileiro. Isto não é apenas simbólico, mas deve refletir a prioridade que se atribui à cultura para o exercício da cidadania em nosso país. É bom lembrar que a criação do Minc foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República. Isso não foi uma coincidência. O fim da ditadura foi um período que permitiu ao país voltar a sonhar com mais liberdades, com a melhoria da qualidade de vida. O desenvolvimento cultural foi uma das grandes marcas desse período. Por isso, agora, não é coincidência que a primeira medida do governo provisório seja a extinção do Ministério da Cultura. É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário", enfatizou Dilma.
Dilma lembrou que o fim da ditadura permitiu ao país voltar a sonhar com mais liberdades, com a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento cultural foi uma das grandes marcas desse período.
“Por isso, agora, não é coincidência que a primeira medida do governo provisório seja a extinção do Ministério da Cultura. É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário. Uma secretaria nacional de Cultura não tem a capacidade de atender às demandas e necessidades culturais da população. Não tem a estrutura necessária para atuar, levando em conta a amplitude, a complexidade e a diversidade cultural brasileira. O MinC trabalha com a preservação do patrimônio, o fortalecimento da diversidade cultural das manifestações regionais, tradicionais e contemporâneas, o fomento e incentivo às artes e a regulação”, sublinhou.
Questionada pelos internautas, Dilma comentou a sequência de negativas de mulheres notáveis aos convites de Temer para ocupar cargo na Secretaria de Cultura do Ministério da Educação.
“Acredito que as mulheres não querem ser tratadas como um fetiche decorativo. Ao contrário do que alguns pensam, as mulheres têm apurado senso crítico e, por isso, são muito sensíveis a todas as tentativas de uso indevido da sua condição feminina. As mulheres brasileiras são trabalhadoras, profissionais dedicadas, lutam pelo seu espaço e têm plena consciência de seus direitos. Tenho certeza que a razão das recusas está na qualidade da consciência de gênero que nós adquirimos durante todos esses anos de luta contra o preconceito”, rebateu.
Dilma também deu uma aula aos desinformados que tentam justificar a extinção do ministério como forma de economizar custos, pois a pasta “serve para dar dinheiro aos artistas.
“É um equívoco achar que o MinC trabalha apenas com as artes e os artistas. Desde 2003, quando o presidente Lula foi eleito pela primeira vez e o ministro Gilberto Gil foi nomeado, o Ministério da Cultura passou a trabalhar com o conceito ampliado de cultura, incorporando a amplitude da dimensão simbólica do país. Passamos a nos responsabilizar por todas as manifestações e processos culturais em todo o território nacional, surgindo daí uma quantidade enorme de editais para fomentar e incentivar essas atividades. E criamos os pontos de cultura, hoje reconhecidos e louvados internacionalmente”, frisou a presidenta.
E acrescentou: “Assumimos a importância da cultura dos povos indígenas e a responsabilidade do Estado brasileiro em apoiar a preservação das suas tradições culturais, incluindo suas línguas e empoderá-los para uma relação saudável com a sociedade como um todo. Assumimos uma agenda emergente do século XXI e possibilitamos que o Brasil cresça com o desenvolvimento tecnológico e a difusão da digitalização. Temos avançado na regulação do ambiente cultural, trabalhando conjuntamente com o Congresso. O primeiro risco é a perda de importância da área cultural com transformação do Ministério em Secretaria, já respondida acima. Segundo, é a perda de capacidade administrativa e, igualmente importante, a Cultura deixar de ser vista como um direito básico da população em geral”.