Deputada diz a Serra que a diplomacia não começa com ele 

A ex-presidenta da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) criticou, em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, na última sexta-feira (20), as primeiras medidas do ministro interino de Relações Exteriores, José Serra. Ela destacou o anúncio feito por Serra de que pretende fechar embaixadas brasileiras na África e no Caribe. 

Dilma e Obama - Agência Brasil

“Eu queria pedir ao Chanceler José Serra que pense que a diplomacia brasileira não começou com a chegada dela. A diplomacia brasileira é uma construção histórica, é uma construção de cooperação que o Itamaraty e os seus funcionários sempre preservaram. E nós não admitiremos a ingerência de discursos político-partidários para atrapalhar a conquista e o papel geopolítico do Brasil”, afirmou a parlamentar.

Ela destacou ainda as palavras do chanceler do Governo Dilma, Mauro Vieira, que explicou a diplomacia brasileira atual como “a diplomacia do universalismo, a diplomacia da parceria com múltiplos países, independente dos níveis de desenvolvimento econômico, que a levou ao patamar de jogar um papel na geopolítica mundial extremamente importante”, em contraponto “a essa diplomacia outra que eu classificaria como a diplomacia do atraso, a diplomacia dos alugueis.”

A referência aos alugueis é baseada no anúncio de Serra de que vai fazer um levantamento sobre os preços dos alugueis das embaixadas para decidir sobre o fechamento de algumas delas. “Das Embaixadas da África e do Caribe”, destacou Jô Moraes. “Não falou, em nenhum momento, em outras embaixadas. Falou exatamente daquelas regiões em que os países têm dificuldade de inserção na globalização econômica e necessitam de parcerias cada vez mais frequentes.”

Inventor da roda

A deputada criticou ainda que, nas dez diretrizes que apresentou na sua posse, (Serra) parecia querer inventar a roda. “Ele fala de se despontar para as relações, abrir-se para os Estados Unidos, Alemanha. Ele se esquece de que a Presidenta Dilma Rousseff, em 2013 e 2015, esteve com o Presidente Barack Obama, visitas extremamente divulgadas e importantes para a economia do Brasil, em que foram assinados acordos de cooperação com os Estados Unidos nas áreas de defesa, de educação, de agricultura, de ciência e tecnologia, até acordos previstos com a Nasa (agência espacial estadunidense).

Jô Moraes também fez severas restrições “a visão do Chanceler interino José Serra de querer reduzir as relações com os vizinhos ao soltar notas agressivas contra os países irmãos da América Latina, que questionaram esse movimento golpista que está em curso.”

Os primeiros sinais que o Chanceler interino José Serra apresenta preocupam a deputada, que lembrou que “nós estamos num crescente processo de incorporação do Brasil ao mercado internacional”, destacando que “no período mais recente, o Brasil teve uma articulação intensa que o levou a assinar acordos bilaterais, acordos automotivos com a Colômbia, com o México, com o Peru, que inclui compras governamentais, cooperação da propriedade intelectual, acordos em relação a serviços, enfim, inúmeros acordos que estão em andamento e que precisam ser preservados”, defendeu.