Orlando: Seremos cobrados como geração diante desse golpe

Na noite desta segunda-feira (23), o pátio da Faculdade de História da USP foi pequeno para a multidão que recebeu o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), para um debate sobre os rumos da esquerda frente ao golpe. O parlamentar considera o golpe reversível e aponta para a mobilização pelo Fora Temer como a melhor forma de unificar contra o governo ilegítimo.

Orlando: Seremos cobrados como geração diante desse golpe

Após dois auditórios lotados nos períodos da manhã e da tarde, a organização do Seminário Caminhos da Esquerda Diante do Golpe decidiu realizar o último debate no pátio do prédio da Faculdade de História. Cerca de quinhentas pessoas se amontoaram, na noite mais fria de maio, atentas e silenciosas para conseguir ouvir o que tinham a dizer representantes de partidos, sobre os próximos passos da conjuntura de crise política. O microfone praticamente não fazia diferença e exigia um esforço maior da audiência para acompanhar os raciocínios do vereador Toninho Véspoli (PSOL) e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

Véspoli representou Ivan Valente, deputado do PSOL, enquanto outros representantes de partidos não puderam comparecer. Ainda assim, as análises foram ouvidas e deram margem para um debate acalorado em meio ao vento gélido que atravessava o vão central do prédio.

A responsabilidade diante do retorno conservador

Orlando, por sua vez, apontou na história do país o modus operandi dos consórcios golpistas, sempre formando uma aliança entre parlamento, judiciário, mídia e empresariado. “Após 31 anos de experiência democrática, estamos diante de um golpe que não é inédito, articulado entre mídia, Supremo Tribunal Federal, com grande apoio empresarial, que ratificam o golpe como se estivesse respaldado pela institucionalidade”, disse o deputado, mostrando que, desarticular esse tipo de consórcio não é simples.

“Este tipo de golpe não é um fenômeno brasileiro”, também ressaltou o parlamentar. O tipo de ataque golpista a governos em várias partes do mundo, segundo ele, faz parte de um projeto imperialista. Os ataques se dão, particularmente, contra governos que reivindicam projetos nacionais em conflito com os interesses imperialistas. Ele lembrou o caso do embaixador, representante dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), Michael Fitzpatrick, que ratificou o governo ilegítimo do Brasil, ao afirmar que não houve golpe, num indicativo da satisfação do Governo Obama com o resultado da crise política brasileira.

Para Orlando é importante analisar o que emerge desse golpe. Ele lembrou dos anos 1980 em diante, quando os setores mais conservadores da política governavam o Brasil com um violento projeto neoliberal, criminalizando os movimentos sociais. O massacre de sem terra em Eldorado de Carajás e a repressão ao movimento de petroleiros no Governo FHC foram lembrados como símbolos desse período. “Os movimentos sociais eram tratados a bala, uma realidade que vemos emergir desse golpe.”

Para ele, o desmonte do Governo Dilma por Temer, excluindo mulheres, jovens e negros das instâncias de poder, é fundamental para a implantação de um projeto conservador, ligado também a setores religiosos da política. “As mulheres simbolizam uma frente de luta tão importante nesse combate atual, assim como os jovens e negros que chegaram a universidade e lideram o combate ao desmonte da educação pública. As manifestações contra a homofobia se levantam para contestar a ordem que representa esse governo”, enumera Orlando a onda de lutas que se espalha pelo país.

“Há uma hegemonia conservadora que deve vir com esse governo ultraliberal na economia”, afirmou. Para ele, refletir sobre o papel do estado é refletir sobre valores progressistas, de como o orçamento público deve ser investido para beneficiar a população. Orlando volta a repetir que esse conservadorismo, inclusive na economia, avança em todo o mundo.

“A tarefa central é fazer a denúncia do golpe e, sobretudo, dos riscos para o país. Podemos perder, sim, as poucas conquistas que alcançamos”, alerta ele. Observando a movimentação do governo no Parlamento, ele antecipa que as reformas propostas na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) não trarão nada de bom para os trabalhadores.

Orlando foi muito aplaudido ao prestar solidariedade aos manifestantes que protestavam contra Michel Temer nas proximidades de sua casa. “É uma vergonha o que a polícia do Alckmin fez com os trabalhadores no Alto de Pinheiros, enquanto os maloqueiros em frente da Fiesp [apoiadores do golpe] têm o apoio da polícia para bloquear a Avenida Paulista”. Orlando alerta para que os movimentos sociais não subestimem o aparato repressivo estruturado no estado brasileiro. É preciso estar atento à possibilidade da polícia estar monitorando quais serão as próximas ações de resistência ao golpe.

“Precisamos continuar acentuando o caráter ilegítimo desse governo”, sugeriu ele, acompanhado de gritos entusiasmados de “Fora Temer”. Em sua opinião, já no dia 17 de abril, com a votação do impeachment na Câmara já começou a “cair a ficha” da população para o que estava acontecendo. tos de "iais nedade aos manifestantes que protestavam contra Michel Temer nas proximidades de sâmara, . A consciência de que o novo governo nada mais é que o patrocinador da corrupção no Brasil, chefiado por Eduardo Cunha, que operou para impedir que as investigações continuem.

“A única chance que temos de derrotá-los é levantar o Brasil, pois seremos cobrados como geração”, disse Orlando, citando a luta de professores da USP que viveram uma repressão brutal, durante vinte anos, por combater o golpe de 64. “Atacar a luta popular será uma necessidade política para eles. Eles vão ter que calar e impedir esses movimentos unificados em torno do Fora Temer. Precisamos ecoar essa palavra unificadora”, disse ele, mencionando que ministros e parlamentares golpistas são impedidos de falar em público pelas manifestações populares que cobrem suas vozes com o Fora Temer.

Orlando, no entanto, afirma que não se deve ter a ilusão de que a maioria do “Fora Temer” seja favorável ao Governo Dilma, pois o acordo feito na eleição, não foi o que se praticou após a vitória eleitoral. “Parte do esforço para convencer alguns senadores a votar pelo retorno de Dilma é que a presidenta convoque antecipação de eleições. Tem que ter uma saída política para esse impasse!”, concluiu ele.

Combatentes do golpe, mas críticos ao Governo Dilma, os representantes do PSOL atacam a política de alianças e são reticentes com certas políticas sociais do governo, defendendo esses fatores como parte das causas da crise política irrompida e do enfraquecimento dos movimentos sociais.

Véspoli considera nocivas as alianças “com setores espúrios” e uma ingenuidade dos setores hegemônicos da esquerda que acreditam numa conciliação de classes com a Fiesp. Para ele, a política de distribuição de rendas baseada no salário mínimo, levaram a um aquecimento do consumo, sem promover uma reforma estrutural que aprofundasse as conquistas. “Agora, vemos o grau de ferocidade da perda de direitos que esse golpe representa”, lamentou. Para ele, “a mobilização nas ruas mostra que rumo tomar”, ao rejeitar o governo golpista de Michel Temer.