Conservadorismo: Escola Sem Partido é resgate à ditadura militar
Uma escola sem debates sobre genêro, sexualidade, política, movimento estudantil e o cerceamento à liberdade de expressão. Para alguns, poderia soar como um relato da ditadura militar, mas esse modelo educacional é defendido atualmente pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) em um projeto de lei de sua autoria que tramita no Congresso Nacional e ganha adesão de setores conservadores.
Por Laís Gouveia
Publicado 02/06/2016 16:14
Na página oficial do grupo “defensores da escola sem partido”, há um manual de como salvar as crianças do “monstruoso esquerdismo”, que destrói famílias e degrada crianças inocentes. Desde “a pedagogia totalitária de Frei Betto” à “contaminação ideológica feita pela ditadura do homossexualismo”, os sem partido atacam entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e dão dicas de como os pais podem criar uma notificação extrajudicial para professores “não cometerem o abuso da liberdade de ensinar”.
“Querem promover o ódio”
Madalena Guasco, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) e professora da PUC-São Paulo, disse que o objetivo da escola sem partido é aumentar o ódio e conservadorismo no país: “Esse movimento está tentando propor nas várias assembleias legislativas projetos de lei que vão desde vigilância do professor em sala de aula e até punição através de mandado extrajudicial. Até agora, eles conseguiram aprovar somente em Alagoas. Aqui em São Paulo o projeto foi engavetado. Agora, em nível nacional, eles estão aproveitando o debate dos parâmetros nacionais curriculares para introduzir o controle do conteúdo ensinado em sala de aula. Eles sabem que a iniciativa deles é inconstitucional, mas o que eles querem é criar um ambiente de medo e perseguição. É disso que se alimenta o fascismo. A Contee entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o projeto que foi aprovado em Alagoas”, denuncia a educadora.
“Escola sem partido é um crime à liberdade”
Para o presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Emerson Santos, a proposta da escola sem partido é criminosa. “Esse projeto é tão criminoso quanto aquele [reorganização escolar do governo Alckmin] que pretendia fechar as escolas, pois cerceia o princípio da liberdade e da discussão política dentro do colégio, espaço que deve ter em seu cotidiano a pluralidade de ideias. O debate sobre a realidade da juventude irá acabar caso o projeto seja aprovado, retirando a discussão de gênero, da sexualidade. Lutamos por uma escola laica, que garanta a opinião, divergência e argumentação, a partir da educação é que garantimos a formação das pessoas”, afirma.