Afastado da Câmara, Cunha diz que sua defesa tem sido "cerceada"

Afastado da presidência da Câmara dos Deputados e com o mandato suspenso após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) convocou entrevista coletiva nesta terça-feira (21) para dizer que o seu direito de defesa é cerceado. Cunha usou a TV Câmara, ao vivo, por mais de 1 hora para dar explicações. Na semana passada, o Conselho de Ética aprovou parecer que pede a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar ao ter mentido sobre não ter contas secretas no exterior.

Cunha falou ao vivo na TV Câmara por mais de 1 hora.

O fato é que sem o comando da Câmara Cunha tem poucas condições de manobrar para retardar ou impedir o avanço do seu processo de cassação, como fazia antes quando estava na presidência da Casa. A coletiva de imprensa, convocada para o Hotel Nacional em Brasília, teve justamente o objetivo de retomar “a comunicação direta com os veículos de comunicação”, segundo Cunha.

“Tenho restringido [a comunicação] a notas ou manifestações no Twitter. Isto tem prejudicado muito minha versão dos fatos como também a comunicação. Resolvi voltar com regularidade a prestar satisfações, eu mesmo me expor ao debate, às entrevistas porque isto está me prejudicando”, disse.

Cunha afirmou ainda que “há um nítido cerceamento de defesa” e tentou dizer que tudo que aconteceu com ele é culpa do PT.

“Na eleição de 2006, militamos a favor de candidatura própria e, a partir de 2007 com vitória de Lula no segundo turno, é que o PMDB foi para a base do governo Lula. Grande parte das acusações do que acontece tem a ver com operações da Petrobras em 2005 e 2006 quando estávamos em confronto forte com o PT”, disse Cunha.

A esdrúxula tática de Cunha é usar a mídia, acostumada a falar mal do governo Lula e Dilma, a seu favor. E conseguiu. A Globonews e outros canais fizeram transmissão ao vivo da coletiva. Mas ele nada falou sobre as cinco contas na Suíça e os US$ 5 milhões em propinas apontados pela investigação da Lava Jato.

Ao invés disso, Cunha disse que está “absolutamente convicto” de que não mentiu sobre contas secretas no exterior.

Diante da eminente cassação, como lhe é peculiar, Cunha resolveu atirar. Disse na entrevista que o então ministro da Casa Civil Jaques Wagner ofereceu a ele os três votos do PT no Conselho de Ética, onde o peemedebista era alvo de investigação, em troca de não deflagrar o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Estranho que essa versão aparece agora, depois da aprovação do parecer que pede a sua cassação. As conversas com Wagner, segundo Cunha, ocorreram em três reuniões.

“Nos três encontros [que tivemos], o Jaques Wagner ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética e, inclusive, chegou ao ponto de oferecer que não iriam incluir nenhuma discussão sobre a presença da minha mulher e da minha filha, com a separação do inquérito no qual eu já estaria respondendo. Quem estava propondo era o governo, não era eu, além de soar como chantagem”, afirmou Cunha.

A versão “vítima” de Cunha não combina com a realidade nem o perfil do parlamentar. A mesma imprensa que dá palanque para o teatro de Cunha também noticiou que a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff foi uma vingança contra a presidenta eleita porque o PT decidiu não apoiá-lo no Conselho de Ética.

Enquanto Cunha concedia a entrevista, dezenas de manifestantes com cartazes e cornetas fizeram um protesto em frente ao hotel. Os manifestantes empunhavam faixas com as mensagens “Fora Cunha”, “Fora Temer” e “Fora golpistas”. O barulho das cornetas era ouvido na sala em que o presidente afastado da Câmara deu a entrevista.